Joaquim Luiz Nogueira
Os Símbolos Como Espelhos Orientadores de Quem Realmente Somos
O homem se compensa através da fantasia[1]
O
dispositivo humano responsável por configurar iniciativas e decisões, aquele
que nos aponta direções, tem como alicerce uma estrutura invisível, cujos
comandos ocorrem por sensações de medo, prazer, preocupações, sonhos e
fantasias. Estas fontes que alimentam o corpo humano e que segundo Jung, preexistente
ao corpo e seus órgãos, também significa, que independe do indivíduo para
atuar.
“A base
instintivo–arcaica de nosso espírito é um fato objetivo, preexistente, que não
depende de experiência pessoal nem de qualquer arbitrariedade subjetiva
pessoal, tampouco quanto a estrutura hereditária e a disposição funcional do
cérebro ou de qualquer órgão” (JUNG, 1986, p.25).
Tendo
esta base estrutural fora do indivíduo, logo o corpo se torna um órgão
receptor, cuja parte do comando parece ser algo externo a ele, o que pode
explicar o fato do indivíduo ver se obrigado a fazer escolhas a cada instante
de sua trajetória. Tais decisões são carregadas de potencialidades, sendo a
maioria delas simbólicas, expressas como opções entre o Bem versos o Mal, ou
melhor e pior. “Tudo o que é psíquico tem um sentido inferior e um sentido
superior (...) e com isso tocamos o enigma do significado simbólico de tudo o
que é psíquico” (JUNG, 1986, p.43).
Estas
sensações que chegam ao indivíduo, muitos classificam como instinto ou como
derivações de experiências pessoais, Jung chamou de arquétipo, isto é, uma
espécie de estampagem que o sujeito carrega através do sistema nervoso, isto é,
uma capacidade para fazer escolhas por ele. “De fato, podemos constatar
psicologicamente que um arquétipo é capaz de dominar o eu e, mesmo obrigá-lo a
agir em seu sentido” (JUNG, 1986, p.57).
O
fato destas sensações serem sentidas a partir de evocações mentais, que também
podem ocorrer por meio de situações especificas, por exemplo onde está presente
o desespero, isto é, aquelas não planejadas pelo indivíduo, é esclarecido por
Jung da seguinte maneira: “Trata-se, porém da energia inerente ao arquétipo ao
inconsciente, como tal não está à nossa disposição” (JUNG, 1986, p.75).
E
se o indivíduo pode contar com uma ajuda que ele desconhece, mas que lhe
oferece socorro quando necessita, logo, passa a acreditar que não está
desamparado neste mundo e até ir, além disso, ao incorporar aquilo em que
confia ser. “Trazer um Deus dentro de si significa muito: é a garantia de
felicidade, de poder e até de onipotência, uma vez que estes são atributos
divinos” (JUNG, 1986, p.75).
Na
história humana, como forma de elucidar estas incorporações, pode se observar os
indivíduos que se apresentaram aos seus súditos como representantes de
divindades, enquanto outros, disseram ser o próprio Deus aos seus comandados.
“As ideias de deificação
são antiguíssimas. Na crença antiga localizavam-se no período após a morte, mas
o mistério já as contém neste mundo. Temos uma bela descrição num texto
egípcio; é o canto triunfal da alma em ascensão: Sou o deus Atum, que só eu
fui. Sou o deus Rê, em seu primeiro esplendor. Sou o grande deus, que se criou
a si mesmo” (JUNG, 1986, p.76).
O
processo que transforma o indivíduo em um ser mais forte e confiante contrasta
com a realidade na qual ele se reconhece fraco e inseguro. Para enfrentar os
obstáculos, o sujeito incorpora qualidades necessárias, equivalentes, próximas
de heróis ou deuses.
“A deificação
necessariamente tem por consequência um aumento da importância e do poder
individual. Isto de início parece ser o objetivo: uma afirmação do indivíduo
face a sua enorme fraqueza e insegurança na vida pessoal” (JUNG, 1986, p.78).
Outro
lado desta metamorfose ocorre quando o sujeito inicia sua segunda metade da
vida, nesta fase, tende a se fechar em si mesmo, com isso, inverte a
polaridade, as imagens que foram responsáveis pela maior parte de sua
trajetória, aquelas que indicavam rumos e horizontes a partir de contextos
externos, nesta etapa, a pessoa se recolhe com essas lembranças, numa espécie
de paraíso da infância.
“Mas o reforço da
personalidade é apenas uma consequência externa da deificação; muito mais
significativos são os processos afetivos profundos. Quem introverte a libido,
quem a desvia do objeto externo, sofre inicialmente as consequências inevitáveis
da introversão: a libido, voltada para dentro do indivíduo, retorna ao passado
individual e, do mundo das recordações, traz à tona aquelas imagens antigas que
revivem os tempos em que o mundo ainda era cor de rosa. São, em primeiro lugar,
as recordações da infância”
(JUNG, 1986, p.78).
As
emoções da infância, uma vez integradas pelo indivíduo, se transformam em
símbolo de força, sempre que esse ponto for iluminado pela consciência, dali
são irradiadas inspiração e coragem. Neste aspecto, alguns valores desta fase
lhe foram apresentados por figuras de heroísmo, cujo sujeito se espelhava por
meio de imitações. Tais sentimentos que ampliavam a infância por meio de uma
imaginação sem limites de inocência, carregavam também a fonte que se revelaria
toda a sua existência, esclarecida por Jung da seguinte maneira: “Ainda não se
deu conta que o homem, na figura divina, venera a energia do arquétipo. Este
simbolismo aparece de modo extraordinariamente plástico” (JUNG, 1986, p.79).
As
lembranças ou emoções da infância, ambas são apresentadas ao indivíduo como
representações, espécies de ícones que conectam as necessidades das pessoas á
uma força que transcende para além do sujeito. Uma ponte que se torna
responsável pela ligação com o que de fato somos, ou seja, o lugar onde
desejamos permanecer, cujo combustível é a autêntica emoção.
“Mas só como um símbolo:
ela reveste o arquétipo coma figura dos pais assim como explica a energia do
mesmo com as ideias de fogo, luz e calor, fecundidade, força criadora, etc.(...).
Aquilo que é visto como luz interior, como Sol do além, é o psíquico emocional” (JUNG, 1986, p.79-80).
A
comoção que nos prende apenas por alguns instantes por aquilo que desejamos,
continua de forma incessante sua busca cada vez que o fio emocional é rompido.
As maneiras de gerar as figurações entre o que temos e aquilo que nos fascina
são infinitas, no entanto, pode ser citado como exemplos, entre tantas outras,
as linguagens metafóricas, sons, sabores e imagens. observe este movimento na
descrição de Jung: “A simbólica da libido não estaciona (...) mas dispõe de
muitos outros meios de expressão” (JUNG, 1986, p.83)
Antes
de prosseguirmos, vamos esclarecer um pouco sobre o conceito de libido, termo
escolhido por Jung para se referir à energia psíquica, algo bastante abstrato
até nos dias atuais, porém, nos estudos dele, o mesmo fez questão de explicar
porque em alguns momentos, hipoteticamente preferiu chamar a energia vital ou
bioenergia de libido:
Propus
que a energia vital, hipoteticamente admitida, fosse chamada libido, tendo em
vista o emprego que tencionamos fazer dela em psicologia, diferenciando-a,
assim de um conceito de energia universal e conservando -lhe, por consequência,
o direito especial de formar os seus próprios conceitos. Fazendo isto, não
tenho a menor intenção de adiantar-me aos que trabalham no campo da
bioenergética, mas tão – somente dizer-lhe com toda franqueza que empreguei o
termo “libido” em vista do uso que dele faremos em nosso estudo. Para seu uso,
esses estudiosos poderão propor, se o quiserem, os termos “bioenergia” ou
“energia vital” (JUNG,2002, p.26)
Voltamos
à infinidade de imagens arquivadas no psíquico humano, cujo acesso instantâneo
pela consciência se dá por meio de uma espécie de leitura simbólica, isto é, uma
metáfora que pode levar a uma diversidade de possíveis interpretações segundo
as necessidades de cada indivíduo.
Esta
multiplicidade de formas desencadeadas via imaginação do sujeito, levou ao
longo da história das civilizações antigas a várias tentativas de padronizações
das imagens mentais que seriam válidas ou verdadeiras em relação às inúmeras
outras que formavam a gama simbólica, principalmente em termos religiosos, no caso
do Antigo Egito:
Todos os
símbolos, infinitamente diferentes, enquanto imagens da libido podem ser
reduzidos a uma raiz muito simples: justamente à libido e as suas propriedades.
Esta redução e simplificação psicológica corresponde ao esforço histórico das
civilizações de unir e simplificar sincreticamente o infinito número de deuses.
Já encontramos esta tentativa no Egito antigo, onde o incrível politeísmo dos
diferentes demônios locais finalmente tornou necessária uma simplificação
(JUNG, 1986, p.86).
A
grandeza do astro celeste sobre a terra e as qualidades de sua luz juntamente com
a criação da vida vegetal e animal, logo, por via analógica, se transforma na
maior das divindades, aquela com a capacidade para unificar todas as demais sob
seu poder visível, a coroa solar. “O deus se transforma no Sol, e com isso
encontra uma expressão natural que está além da fragmentação moral do divino
pai celestial e no diabo” (JUNG, 1986, p.109).
Neste
aspecto, o indivíduo era movido por uma força impulsionadora, que no caso da
Civilização Egípcia era o sol. Este astro celeste, analogicamente, assim como
os humanos, produzia coisas úteis e nocivas, boas e más.
Também
brilha igualmente para justos e injustos e faz crescer tanto seres úteis quanto
nefastos. Por isso o sol é adequado para representar o deus visível deste
mundo, a força propulsora de nossa própria alma a que chamamos de libido e cuja
essência é produzir coisas úteis e nocivas, boas e más (JUNG,1986, p.110).
Desse
modo, aquilo que nos empurra para frente, dá a partida, isto é, elemento
disparador do indivíduo, que no caso físico, seria o coração. No lado psíquico,
corresponde a algo que está ausente do sujeito e que segundo Jung pode ser:
“fatos determinados pelos instintos ou pelos arquétipos e que não podem ser
compreendidos mediante o princípio da causalidade” (JUNG, 2002, p.9).
No
conceito de energia psíquica, o indivíduo seria construído via consequências de
ações realizadas a partir de sua origem, transformações que estamparam nele
sinais, cujos traços, manifestam de forma progressiva, numa tentativa de
compensar o desequilíbrio inicial. Esse movimento é direcionado e irreversível
no sujeito segundo Jung:
A
consideração energética é essencialmente de caráter finalista, e entende os
fenômenos, partindo do efeito para a causa, no sentido de que na raiz das
mutações ocorridas nos fenômenos há uma energia que se mantém constante,
produzindo, entropicamente, um estado de equilíbrio geral no meio dessas
mutações. O desenrolar do processo energético possui uma direção (um objetivo)
definida, obedecendo invariavelmente (irreversivelmente) à diferença de
potencial. (JUNG,2002, p.13-14).
De
acordo com Jung, o ponto de vista energético do indivíduo não tem nada a ver
com qualidade, pois isso implica produto e substâncias, “mas unicamente com
suas relações quantitativas de movimento” (JUNG, 2002, p.16). Desse modo, a
medida numérica de realizações ou a persistência do sujeito em relação ao que
deseja, indicam traços energéticos reparadores, advindos de sua origem.
Uma
ação do indivíduo, na qual, o mesmo possa incorporar certa representação
desejada, esta, passa também, a impulsionar ou determinar os rumos de sua
trajetória. Tal força, segundo Jung, aparece também no campo religioso. “O
arquétipo, como mostra a história dos fenômenos religiosos, tem efeito luminoso,
isto é, o sujeito é impelido por ele como pelo instinto, e este pode ser
limitado e até subjugado por esta força” (JUNG, 1986, p.145).
O
sujeito que consegue direcionar sua energia psíquica para aquilo que ele
realmente deseja e venera, torna-se alegre e dinâmica sua própria existência,
pois para Jung, “Este mundo é vazio somente para aquele que não sabe dirigir
sua libido para coisas e pessoas e torna-las vivas e belas para si” (JUNG, 1986,
p.158).
Do
ponto de vista biológico o indivíduo como ser único e isolado é algo fraco,
portanto, necessita dos outros para sua existência. De outro lado, para que
seja reconhecido como protagonista de alguma coisa, ele deve construir sua
originalidade a partir de uma seleção de ações culturais e valores simbólicos,
cuja prática dos mesmos lhes sirva como espelho a si e aos demais.
O homem
como indivíduo é um fenômeno suspeito, cujo direito a existência poderia ser
combatido sob o ponto de vista biológico, segundo o qual o indivíduo só tem
sentido como ser coletivo, como elemento integrante da massa. Mas o aspecto
cultural lhe confere um significado que o separa da massa e que no decorrer dos
milênios levou à formação da personalidade, passo a passo com a qual se
desenvolveu o culto ao herói. (JUNG, 1986, p.162).
É
neste aspecto que o sujeito pode ver a imagem maravilhosa, o sonho, ou seja,
aquilo que ele mesmo construiu via sua imaginação. E diante de seus gestos e
palavras como participante do processo, ele representa os valores que desejaria
na sua realidade, e esses, passam a refletir nele como revelações, ideais,
potência e contornos, que de algum modo, estruturaram o indivíduo.
Sob a
forma humana visível não se procura o homem, mas o super-homem, o herói ou o
deus, justamente o ser semelhante ao homem, que exprime aquelas ideias, formas
e forças que comovem e moldam a alma humana. (JUNG, 1986, p.163).
Trata-se
de uma busca de ideais sonhados pelo indivíduo, cuja realização é algo incomum,
próxima do mito ou desejo de se aproximar de uma estrela, porém, como
representação, essa vontade se fixa no horizonte psíquico e reveste as ações,
ora como lembranças, ora como ficções, espécie de farol que ilumina a
consciência para uma busca ambiciosa e destemida, rumo a uma visão
extraordinária e heroica.
Por isso
os heróis sempre são semelhantes ao Sol. Por isso nos julgamos autorizados a
concluir enfim que o mito do herói é um mito solar. Quer me parecer, contudo
que ele é antes a auto-representação da nostalgia do inconsciente em sua busca
insaciada e raramente saciável pela luz da consciência (JUNG, 1986, p.180).
Neste
sentido, o indivíduo se assemelha a uma projeção, cuja fonte, mesmo distante
dele, é capaz de apontar as direções possíveis via imagens psíquicas, isto é,
representações simbólicas que alimentam e desencadeiam movimentos no corpo.
Para Jung, “a única realidade é a libido, cuja natureza se revela através de
nossas realizações (...) é a força criadora inconsciente que se oculta em
imagens” (JUNG, 1986, p.212).
Para
ilustrar a ideia de como a evocação por pensamento pode direcionar uma ação,
Jung menciona um trecho bíblico de João 3:6 “O que é nascido da carne é carne,
e o que é nascido do Espírito é espírito” No entanto, como psicanalista, ele
traduz dizendo que se o indivíduo pensar de modo carnal, serás carne, mas se
pensar simbolicamente será espírito “Na exortação de Jesus a Nicodemos
encontramos esta imposição: não penses de modo carnal, pois então serás carne,
mas pensa simbolicamente e então será espírito”! (JUNG, 1986, p.215).
O pensamento simbólico para Jung é uma forma
de elevação do sujeito, algo que o mesmo não conseguiria se ficasse preso ao
concreto. Já a fascinação evocada pela forma metafórica promoveria a pessoa
para pensar e agir de forma diferente:
É
evidente quanto esta atração pele simbólico educa e promove o homem. Nicodemos
permaneceria aferrado ao quotidiano grosseiro se não conseguisse elevar-se
simbolicamente acima de seu concretismo. (JUNG, 1986, p.215).
Assim,
podemos afirmar que as ações dos indivíduos possuem relações com aquilo que eles
pensam. No caso de Nicodemos, segundo Jung, o que dificultava suas ações era o
fato dele pensar grosseiramente, ou seja, de modo mal-educado e para que
ocorresse a mudança, Jesus teria que o fazer pensar simbolicamente.
Quando
se pensa numa linha próxima da prática cotidiana, a pessoa tende mais a
resistir à mudança e não acredita que pode fazer de forma diferente. Isso gera
um sentimento de que está preso para sempre numa missão tediosa.
No
entanto, se o indivíduo conseguir pensar de forma simbólica, esta liberta o
mesmo desta cadeia viciosa, cuja atração empírica não permite a saída psíquica
e imaterial, capaz de criar novos horizontes, cujas forças sugestivas podem
estruturar a mente de maneira diferente. Vejamos isso nas palavras de Jung:
A verdade
empírica não liberta o homem de suas amarras sensuais, pois lhe mostra apenas
que sempre foi assim e também não poderia ser diferente. Mas a verdade
simbólica que coloca água no lugar da mãe, espirito ou fogo no lugar do pai,
oferece uma nova saída à libido presa na assim chamada tendência incestuosa,
liberta e a conduz para uma forma espiritual. (JUNG, 1986, p.216).
A
passagem ou portal que liga o indivíduo a outra dimensão via símbolo se abre
para pessoa a partir do momento em que ela apreende, isto é, o sujeito
apodera-se dos valores no qual acredita. Para Jung, a fé é um carisma para
aquele que a possui, porém, não é um caminho para aqueles que necessitam
primeiro entenderem para depois acreditar: “Embora se acredite em símbolos
natural e originalmente, também é possível entende-los, o que é o único caminho
viável para aqueles que não têm o carisma da fé” (JUNG, 1986, p.220).
Estamos
falando de um mecanismo capaz de fazer a ligação entre aquilo que o indivíduo
presencia com a coisa almejada por ele como ideal para cada situação
vivenciada. Este recurso é o símbolo, um elemento de personificação, cuja força
de atuação ocorre de forma psicológica, sendo responsável pelas conquistas
pessoais.
O
símbolo, observado sob o ponto de vista do realismo, não é uma verdade
concreta, mas psicologicamente ele é verdadeiro, pois foi e continua sendo a
ponte para as maiores conquistas da humanidade (JUNG, 1986, p.220)
Tais
categorias de sugestões ditadas ao indivíduo por meio de símbolos são
totalmente dependentes da experiência pessoal e única de cada sujeito. É a
experiência que faz a conexão entre a realidade e a ação prática, espécie de
força movida e estruturada por símbolos, cuja função amplificadora, transforma
e conduz a pessoa de uma dimensão insignificante para grandezas idealizadas em
cada momento de sua trajetória.
Os
arquétipos são elementos estruturais numinosos da psique e possuem certa
autonomia e energia especifica, graças à qual podem atrair os conteúdos do
consciente a eles adequado. Os símbolos funcionam como transformadores,
conduzindo a libido de uma forma “inferior” para uma forma superior. (JUNG,
1986, p.221)
É
muito comum ouvirmos de uma pessoa após alguma decisão ou ação que tenha sido
muito significante para determinada situação: tive uma ideia ou me veio uma
sugestão naquele instante. Para Jung, “O símbolo age de modo sugestivo,
convincente, e ao mesmo tempo exprime o conteúdo da convicção. Ele age de modo
convincente graças ao número, que é a energia especifica própria do arquétipo”
(JUNG, 1986, p.221).
Tais
recomendações que surgem de forma espontânea ao indivíduo, porém, persuasiva o
bastante para que ele obedeça, é algo, que conscientemente, nem o próprio
sujeito reconhece como fruto de sua autoria, mas fala como se tais sugestões
tivessem sido originadas do nada.
Como
essas opiniões chegam ao indivíduo com forte convicção, semelhante aquilo que
chamamos de fé, logo, podemos investigar sua origem advinda de elementos que
estão fora do sujeito, tais como força da herança cultural, cujo contexto
vivenciado pela pessoa lhe impõe obrigações na qual, ela não tem como fugir da
autoridade da tradição.
A fé
“legitima” sempre remonta à vivência.
Mas existe ainda uma fé baseada exclusivamente na autoridade da
tradição. Pode se considerar também esta fé como “legitima”, pois também a
força da tradição representa uma vivência cujo valor para continuidade da
cultura está fora de dúvida. (JUNG, 1986, p.221)
De
outro lado, esta autoridade de uma suposta tradição parece que não se sustenta
por muito tempo, já que o ser humano, segundo Jung, pode ser possuído pela inércia,
espécie de preguiça mental, na qual joga o mesmo de volta para infantilidade.
Desse modo, os valores da tradição pode até continuar, porém, não fazem mais
sentido nenhum para o indivíduo, que se lança numa busca constante de outros
sentidos para sua vida.
Mas nesta
forma de fé existe o perigo do simples hábito, da preguiça mental, da inércia
cômoda e estéril, que ameaça uma parada e um consequente retrocesso da cultura.
Esta dependência, que se tornou mecânica, anda passo a passo com uma regressão
psíquica para infantilidade. Os conteúdos tradicionais pouco a pouco perdem seu
verdadeiro sentido e só são mantidos formalmente, sem que esta forma de fé
ainda exerça qualquer influência sobre a vida (JUNG, 1986, p.221)
Esta
nova procura do indivíduo não pode ser apenas fruto de sua racionalidade, para
Jung, “O homem não pode transformar – se em alguma coisa exclusivamente pelo
raciocínio, mas apenas naquilo que já está em potencial dentro dele” (JUNG,
1986, p.225-226).
Novamente,
temos aqui a sensação de que a construção do indivíduo está ausente dele, pois,
de acordo com certas necessidades, ocorrem transformações em níveis de
arquétipos inconscientes, que segundo Jung, pode ser mudanças que aos poucos, o
consciente do indivíduo começa a interpretar essas tais orientações e colocá-las
em pratica na vida.
Se uma
tal transformação se torna necessária, a adaptação mantida até agora e que
pouco a pouco se desfaz é compensada inconscientemente pelo arquétipo de uma
outra forma de adaptação. Se o consciente conseguir interpretar o arquétipo
constelado quanto ao sentido e de maneira apropriada, ocorre uma transformação
compatível com a vida (JUNG, 1986, p.226)
Outra
explicação, mais fácil de compreensão destas sugestões que impulsionam o
indivíduo vem do conceito de magia, que se trata da criação de eventos, cuja
função, seja produzir expectativas. Trata-se do uso de analogias, sendo que
estas produzem perspectivas, espécie de energia que alimenta através de
oferecimento de possibilidades, cujo valor, pode ser capaz de estimular a
imaginação a ponto de uma incorporação prolongada do mesmo pela mente do
indivíduo.
A
primeira produção de trabalho arrancado pelo homem primitivo da força
instintiva mediante a criação de analogias foi a magia. Uma cerimônia é mágica,
quando não é executada para se obter uma produção efetiva de trabalho, mas
permanece no estado de expectativa. Neste caso, a energia é canalizada para um
novo objeto e produz um novo dinamismo, que, por sua vez, permanece mágico
enquanto não realiza trabalho efetivo. A vantagem que advém de uma cerimônia
mágica é que o objeto recém – ocupado, adquire uma possibilidade de atuação em
relação à psique. Por causa de seu valor, ela produz um efeito determinante e
estimulador sobre a imaginação, de sorte que a mente é fascinada e possuída por
ele por um tempo prolongado (JUNG, 2002, p.54).
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