Nascimento
do Pensamento Religioso do Oriente[1]
Joaquim Luiz Nogueira
O
eterno retorno das formas imutáveis ao longo do tempo: rotação diária do sol; O
crescer da lua; morte e renascimento no mundo agrícola, todos esses fenômenos
representam milagres para povos da antiguidade. Encontrar o ponto imóvel da
eternidade em volta do qual tudo girava, significava: “onde tudo é aceitável da
maneira como é, e assim, pode ser vivenciado como magnifico e maravilhoso”.
O
indivíduo deve apenas exercer o papel que lhe foi atribuído, semelhante ao sol
e a lua, aos animais e vegetais ou a água, rochas e estrelas. Não deve
apresentar resistência, nem se negligenciar para identificar sua consciência
com o princípio contido no todo. O encanto onírico desta tradição contemplativa
por meio da orientação metafisica, cuja luz e as treva dançam juntas e que os
arquétipos sem-tempo do princípio mitológico do um que se tornou dois
estabelece que o indivíduo não é mais do que uma folha caída.
Do
ponto de vista psicológico retira-se o foco da mente no individual para
colocá-lo no grupo que permanece, isto é, do ponto de vista mágico que reforça
a vida perene em todas as vidas, que parece muitas, mas na verdade, são uma só,
a fonte divina. Tal comunhão contemplativa, ao identificar sua consciência com
o princípio contido no todo, pregado no Bhagavad Gitã, isto é, no retorno ao
estado sem ego, ou seja, antes da individualidade, quando o um se tornou dois:
"No
princípio”, afirma um exemplo indiano de c.700 a .C, preservado no Brhadaranyaka
Upanisad
Este universo
não era nada
senão o Si-Próprio
na forma de
um homem .Ele olhou
em volta e
viu que não
havia nada além
de si mesmo,
de maneira que seu primeiro grito
foi: "Sou Eu!", e da í surgiu
o conceito "e u".( E é por
isso que, até
hoje, quando interpelados
respondem os antes "sou eu! ", e só de pois damos o nome
pelo qual atendemos) (CAMBPBELL, p. 18)
Esta
mudança da identificação com o todo, cujos reis eram personificados como
divindades na terra (caso da Suméria até 2350 d.C.) e na Índia, este ritual com
sacrifico humano para agradar as divindades chegam até 1830 d.C. Tal abordagem é substituída pela Relação, nesta, o homem não
é mais Deus, mas feito para conhece-lo, honrá-lo e servi-lo, oferecendo
sacrifícios em honra a Deus. Criador e criatura se separam, o homem apenas fica
com a visão do deus perdido que estava nele, um processo de afastamento da
visão anterior de ciclos repetidos, da criação feita no principio e de uma
única vez e para sempre, seguida por uma queda.
Surge
a orientação temporal, não mais o mundo como eternidade, mas como um campo de
conflito cósmico entre as forças da luz e das trevas. O símbolo desta nova
tradição é Zoroastro (profeta persa) que pregava o conflito entre o senhor do
bem Ahura Mazda, o primeiro rei da ordem justa, aquele que determinou o rumo do
sol e das estrelas contra o Mal, representado por Angra Mainyu, aquele que
havia se infiltrado em cada partícula da criação.
Na
profecia de Zoroastro, afirmava que ele havia nascido 12 mil anos após a
criação do mundo e quando ele retornasse, isto é, 12 mil anos depois, voltaria
na pessoa do Messias Saoshyant para travar a batalha final e a conflagração
cósmica do bem:
O zoroastrismo possuiu um sentido ético e
social, e também um sentido profético, pois admitiu a vinda de um messias,
chamado Saoshyant.
Ele seria gerado por uma virgem e aconteceria um juízo final com a queda
definitiva de Arimã[2]. Assim,
o masdeísmo demostrou um nível de moralidade elevado, através da sua regra de ouro, só é bom aquele que não
faz ao outro o que não for bom para si mesmo. Com o tempo, a
religião persa sofreu influência de outros povos e culturas, contudo, podemos
perceber que o zoroastrismo influenciou também o judaísmo, cristianismo e
islamismo.
Nesta
nova reorientação do espirito humano, o homem é convocado para assumir uma
responsabilidade autônoma pela renovação do universo em nome de Deus. Uma nova
política não contemplativa, porém, uma filosofia de guerra santa, que nasce na
Pérsia, cuja oração pregava aos seguidores: “seja a renovação e o progresso
deste mundo, até que a perfeição seja atingida”.
O
Império Aquemênida de Ciro, o Grande, morto em 529 a.C. foi o primeiro seguidor
desta renovação, substituído por Dario I (521 – 486 a.C.) Este último ofereceu
proteção aos hebreus no pós-êxodo para reconstrução de seu templo (Ezra 1:
1-11):
No
primeiro ano de Ciro, rei da Pérsia (para que se cumprisse a palavra do SENHOR,
pela boca de Jeremias), despertou o SENHOR o espírito de Ciro, rei da Pérsia, o
qual fez passar pregão por todo o seu reino, como também por escrito, dizendo:
Assim
diz Ciro, rei da Pérsia: O Senhor Deus dos céus me deu todos os reinos da
terra, e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém, que está em Judá.
Quem
há entre vós, de todo o seu povo, seja seu Deus com ele, e suba a Jerusalém,
que está em Judá, e edifique a casa do Senhor Deus de Israel (ele é o Deus) que
está em Jerusalém.
E
todo aquele que ficar atrás em algum lugar em que andar peregrinando, os homens
do seu lugar o ajudarão com prata, com ouro, com bens, e com gados, além das
dádivas voluntárias para a casa de Deus, que está em Jerusalém.
Então
se levantaram os chefes dos pais de Judá e Benjamim, e os sacerdotes e os
levitas, com todos aqueles cujo espírito Deus despertou, para subirem a
edificar a casa do Senhor, que está em Jerusalém.
E
todos os que habitavam nos arredores lhes firmaram as mãos com vasos de prata,
com ouro, com bens e com gado, e com coisas preciosas; além de tudo o que
voluntariamente se deu. Esdras 1:1-6
Assim,
os hebreus foram responsáveis por uma segunda onda da manifestação desta
filosofia de guerra santa ou de renovação do universo pelo homem em nome de
Deus,
Uma terceira foi o cristianismo (Isaias
54:2-3) por volta de 546 – 536 a.C. evangelho pregado como testemunho para
todas as nações, assim como em (Mateus 24:14 em 90 d.C.
Amplia
o lugar da tua tenda, e estendam-se as cortinas das tuas habitações; não os
impeças; alonga as tuas cordas, e fixa bem as tuas estacas.
Porque
transbordarás para a direita e para a esquerda; e a tua descendência possuirá
os gentios e fará que sejam habitadas as cidades assoladas. (Isaías 54:2,3)
E
este evangelho do reino será pregado em todo o mundo, em testemunho a todas as
nações, e então virá o fim. (Mateus 24:14).
Em
quarto, temos o Islamismo e o Alcorão (2:191 – 193) em 623 d.C.
“Matai-os onde quer se os encontreis e
expulsai-os de onde vos expulsaram, porque a perseguição é mais grave do que o
homicídio. Não os combatais nas cercanias da Mesquita Sagrada, a menos que vos
ataquem. Mas, se ali vos combaterem, matai-os. Tal será o castigo dos
incrédulos. Porém, se desistirem, sabei que Deus é Indulgente,
Misericordiosíssimo. E combatei-os até terminar a perseguição e prevalecer a
religião de Deus. Porém, se desistirem, não haverá mais hostilidades, senão
contra os iníquos.” Alcorão (2:191-193)
Desse
modo, O homem passou a conhecer o Bem e o Mal: “ Então disse o Senhor Deus: Eis
que o homem é como um de nós, sabendo o bem e o mal; ora, para que não estenda
a sua mão, e tome também da árvore da vida, e coma e viva eternamente, Gênesis
3:22”
Na
bíblia, temos a separação entre o homem e Deus, portanto, ele passa a não fazer
parte de todas as coisas como o Deus anterior e agora, tem que conhecer a sua
relação com o criador e depois buscar sua religação com Deus. Para Campbell:
“Na bíblia, entretanto, Deus e homem, desde o
início, são distintos. De fato, o homem é feito a imagem de Deus e o sopro de
Deus foi insuflado em suas narinas; mas seu ser, o seu Si-Próprio, não é o de
Deus, nem tampouco é o uno com o universo. A criação do mundo, dos animais e de
Adão (que então se tornou Adão e Eva), foi realizada não dentro da esfera da
divindade, mas fora dela. Há, consequentemente, uma separação intrínseca e não
apenas formal E o proposito do conhecimento não pode ser contemplar Deus aqui e
agora em todas as coisas. Pois Deus não está nas coisas. Deus é transcendente.
Apenas os mortos veem Deus O propósito do conhecimento tem que ser, antes,
conhecer a relação de Deus com sua criação, ou mais especificamente, com o
homem, e através de tal conhecimento, pela graça de Deus, religar a própria
vontade de cada um com o criador (CAMPBELL, p.18-19)
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