Visões liberais, agônicas e de catástrofe sobre o mundo atual

 

                                                                                                      

                                                                                                    Joaquim Luiz Nogueira


Visão Liberal Ocidental 

Esta visão defende as formas pacificadoras, neutralizantes e normalizadoras, espécie de noção positivista, cujo conhecimento se apresenta como abordagem objetiva (não parcial) da realidade. Nesta visão, não se inclui nenhuma espécie de risco de vida. Qualquer sinal deste aspecto, logo é visto como suspeito e irracional, portanto, descartado. 

“Foucault caracterizou como “as formas pacificadoras, neutralizantes e normalizadoras do poder ocidental moderno” – é ideologia no seu estado mais puro: a ideologia do “fim da ideologia”. Por um lado, temos o conhecimento-especialista não ideológico “objetivo”, por outro, temos indivíduos dispersos, cada um dos quais está focado em seu “cuidado de si” idiossincrático (termo que Foucault usou quando abandonou sua experiência iraniana), pequenas coisas que dão prazer à sua vida. Desse ponto de vista do compromisso universal, o individualismo liberal, especialmente quando inclui risco de vida, é visto como profundamente suspeito e “irracional”. (Slavoj Zizek) 


Visão Agônica 

Trata-se de uma visão movida a partir da ansiedade, isto é, da perspectiva de uma dada recompensa advinda de uma crença. Portanto, uma posição subjetiva, porém, engajada, por exemplo, em ganhos prometidos pelo martírio do indivíduo, que são impregnados na vida dele. A verdade a partir da ansiedade, que se transforma por meio da luta e da provação. É um discurso da perspectiva, cuja totalidade desta visão ocorre quando se atravessa seu ponto de vista próprio. 

A manifestação da verdade ocorre só a partir de sua posição de combate, ou seja, do ideal de vitória buscada, mesmo que esteja no limite da sobrevivência. A verdade é acessível a partir da posição subjetiva e particular do indivíduo. O conhecimento ocorre mesmo que o sujeito esteja engajado na luta pela sua visão agônica. Neste caso, o foco surge a partir do cuidado de si, isto é, de pequenas coisas que dão prazer a sua vida. 


“Ela deixa de captar a diferença chave entre a crença no sentido de insight intelectual (“Eu sei que irei para o céu, é um fato”) e a crença como uma posição subjetiva engajada. Em outras palavras, é incapaz de levar em conta o poder material de uma ideologia – neste caso, o poder da fé – que não se baseia apenas na força de nossa convicção, mas em como estamos diretamente comprometidos existencialmente com nossa crença. Não somos sujeitos escolhendo esta ou aquela crença, nós somos a nossa crença no sentido em que essa crença impregna nossa vida”. Slavoj Zizek 


Visão da catástrofe 

Nesta visão, o engajamento das pessoas assume um compromisso coletivo por uma vida melhor. Trata-se de um espírito coletivo, onde todos estão engajados, ou seja, comportamento semelhante ao que ocorre diante de uma catástrofe, tais como: furacão, tsunami, aquecimento global, pandemia, etc.  Nestas ações coletivas cobram dos indivíduos várias formas de martírios, entre eles, o sacrifício, isto é, tem que superar a vida de prazeres de si e aderir ao profundo engajamento coletivo.


“um compromisso coletivo por uma vida melhor. Após o triunfo do capitalismo global, esse espírito de engajamento coletivo foi reprimido, e agora essa postura reprimida parece retornar sob a forma de fundamentalismo religioso”.” É possível imaginarmos um retorno do reprimido em sua forma adequada de engajamento emancipatório coletivo? Não só é possível, como ele já está batendo à nossa porta – e com força. Mencionemos apenas a catástrofe do aquecimento global – ela exige uma ação coletiva em grande escala que demandará suas próprias formas de martírio, o sacrifício de muitos prazeres aos quais nos acostumamos. Se realmente quisermos mudar todo o nosso modo de vida, o “cuidado de si” individualista que gira em torno do uso dos nossos prazeres terá que ser superado. Por outro lado, a tecnocracia da ciência especializada por si só não resolverá o impasse – terá de ser uma ciência enraizada no mais profundo engajamento coletivo” (Slavoj Zizek)


Conclusão 

 

Estamos vivendo numa visão de catástrofe (pandemia) com as pessoas sendo engajadas em comportamentos coletivos com sacrifícios e martírios para os indivíduos em nome do novo espírito coletivo, chamado de “novo normal”.  A situação de catástrofe está sendo direcionada pela visão agônica de lideranças mundiais e nacionais, que aproveitam este momento de pânico gerado pela catástrofe da pandemia, no qual, aproveitam para moldar comportamentos e para criar e distribuir novas tecnologias, tudo isso, a partir de suas visões agônicas do mundo. Tais mudanças são colocadas em prática dentro de uma visão liberal, cujas autoridades e profissionais liberais, defendem essas novas medidas como formas normalizadoras, cujo conhecimento se apresenta como abordagem objetiva da realidade. 



Referências bibliográficas
FOUCAULT, Michel. 
Em defesa da sociedade: Curso no Collège de France (1975-1976). Tradução de Maria Ermantina Galvão. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 61.
GAMEZ, Patrick. The place of the Iranian Revolution in the history of truth: Foucault on neoliberalism, spirituality and enlightenment. 
Philosophy and Social Criticism, v. 45, n.1, p. 96-124, set. 2018.

Fonte:

https://blogdaboitempo.com.br/2021/08/16/zizek-nossa-resposta-aotaliba/?fbclid=IwAR0Eu7tVfAdARLnMxsDXsbKSbV6R1EWzk3ULifsijuxy6Y9PTWiBPg6xgk

 

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