Representação de Algo Desejado: Jogo da Ficção



Joaquim Luiz Nogueira 

Artigo 1 -  pertencente a uma série de estudos sobre a construção do indivíduo pelo símbolo, realizado pelo autor, numa busca de compreensão sobre o objeto em questão, no caso, o ser humano. 


Representação de Algo Desejado: Jogo da Ficção

Em uma ação racional do indivíduo, o mesmo, procura resolver os problemas reais adaptando-se ao contexto externo que o rodeia, porém, a imaginação lhe acrescenta novos elementos, cujo efeito simbólico é capaz de submeter à realidade no sentido de satisfazer o sujeito, espécie de jogo que não possui norma ou limite para sua inventividade. A pessoa assimila aquilo que melhor lhe encanta, e isto, passa a orientá-la.

Para orientar-se no sentido da assimilação como tal: em vez do pensamento objetivo, que procura submeter-se às exigências da realidade exterior, o jogo da imaginação constitui, com efeito, uma transposição simbólica que sujeita as coisas à atividade do indivíduo, sem regras nem limitações. Logo, é assimilação quase pura, quer dizer, pensamento orientado pela preocupação dominante da satisfação individual (PIAGET, 2015, p.100). 

De acordo com Piaget, o indivíduo em sua fase infantil de socialização, adota algumas normas, sua imaginação passa a simbolizar os diversos elementos presentes em sua realidade, ou seja, para cada fato o sujeito é direcionado rumo a uma conduta coletiva ou certa representação desejada pelo sujeito, frente aquele momento.

Com a socialização da criança, o jogo adota regras ou adapta cada vez mais a imaginação simbólica aos dados da realidade, sob a forma de construções ainda espontâneas, mas imitando o real: sob essas duas formas, o símbolo de assimilação individual cede assim o passo, quer à regra coletiva, quer ao símbolo representativo ou objetivo, quer aos dois reunidos (PIAGET, 2015, p.100). 



O procedimento que o indivíduo adota é semelhante àquele utilizado numa brincadeira, tendo como princípio, a capacidade de lograr a realidade, ao sujeitá-la a outras opções substitutivas. “Mas reconhecemos que, funcionalmente, a assimilação lúdica (...) é o ponto de partida do símbolo” (PIAGET, 2015, p.115). 
O indivíduo associa cada suposta realidade a esquemas ficcionais, ideais ou situações desejadas, sendo que, nenhuma delas possui vinculação direta com o sujeito, porém são evocadas por intermédio de imitações, ou seja, os objetos ausentes participam por incorporações significativas.

No símbolo lúdico, pelo contrário, o objeto atual é assimilado a um esquema anterior sem relação objetiva com ele, e é para evocar esse esquema anterior e os objetos ausentes que com ele se relacionam que a imitação intervém a título de gesto “significante”. Em suma, no símbolo lúdico, a imitação não diz respeito ao objeto presente e sim ao objeto ausente, que se faz mister evocar (PIAGET, 2015, p.118).

A representação pode simbolizar para uma criança um determinado objeto que está ausente. Diante de uma dada realidade, ela deseja algo impossível como tal se realiza mediante a reprodução de algo semelhante, isto é, se deleita com uma ficção. Deste modo, o indivíduo representa aquilo que está em outro plano, externo a ele, porém, essa personificação se incorpora no sujeito por intermédio da imaginação, algo ilusório ou simbólico que lhe satisfaz na ausência do objeto real.

O símbolo implica a representação de um objeto ausente, visto ser comparação entre um elemento dado e um elemento imaginado, e uma representação fictícia (...). Por exemplo, a criança que desloca uma caixa imaginando ser um automóvel representa, simbolicamente este último pela primeira e satisfaz-se com uma ficção (PIAGET, 2015, p.127).

A fantasia ao simbolizar um desejo do indivíduo, aciona mecanismos capazes de mobilizar realizações difíceis ou problemáticas. Ela contém o princípio da brincadeira, que desencadeia movimentos no sujeito, e esses, amplificam se constituindo em novos elementos e ou outras realidades.

A maioria dos jogos simbólicos, salvo as construções de pura imaginação, ativa os movimentos e atos complexos. Eles são, pois, simultaneamente sensórios-motores e simbólicos, mas chamamos-lhes simbólicos na medida em que ao simbolismo se integram os demais elementos (PIAGET, 2015, p.128).

O indivíduo condiciona a realidade para buscar a concretização de seus desejos a partir da invenção de contrapesos, ou seja, algo que possa equilibrar o antagonismo defrontado diante dele. Com este tipo de ação o sujeito expande aquilo que considera como conquista pessoal. 

Além disso, as suas funções afastam-se cada vez mais do simples exercício: a compensação, a realização dos desejos, a liquidação dos conflitos etc. somam-se incessantemente ao simples prazer de sujeitar à realidade, a qual prolonga, por si só, o prazer de ser causa inerente ao exercício sensório motor (PIAGET, 2015, p.128).

Este comportamento que gera equilíbrio ao ser humano, se desperta pela simulação daquilo que ele deseja, pois, “o simbolismo principia com as condutas individuais que possibilitam a interiorização da imitação” (PIAGET, 2015, p.128).
Quando vários indivíduos decidem imitar os mesmos objetos ou outras condutas pessoais, criam símbolos coletivos. Com este tipo de atitude, o sujeito passa a ter um papel a cumprir, já que todos devem agir de forma semelhante, neste caso, surgem às normas.  “A regra é uma regularidade imposta pelo grupo, e de tal sorte que a sua violação representa uma falta” (PIAGET, 2015, 128).
Diante de uma dada realidade negativa ou desagradável, a maneira encontrada pela pessoa para suportar determinada situação é oferecida a ele pelo símbolo, isto é, por algo que está ausente. “O símbolo lhe fornece os meios de assimilar o real aos seus desejos ou aos seus interesses” (PIAGET, 2015, p.136). Esta construção simbólica se dá por meio de objetos e gestos imitativos do que o sujeito deseja, algo que está ausente no momento. A estruturação ocorre por meio de acordos abstratos, que ao imitar a realidade pretendida, esta lhe serve de instrumento a seu estímulo inventivo.

No ponto de partida, a construção simbólica (o objeto dado e os gestos imitativos a que ele é assimilado) apenas representa situações e objetos sem relação direta (...) são assimilados a um sistema de combinações subjetivas (...) uma reprodução imitativa direta da realidade correspondente, e está só é evocada para servir de objeto ao esforço de compreensão inteligente. (PIAGET, 2015, p.159 -160).

Se a ficção é um elemento do pensamento simbólico da pessoa, a ela, podemos acrescentar também a metáfora, pois esta última conecta a imagem mental do sujeito ao objeto desejado, a junção é feita em sintonia com o sentimento individual de cada pessoa.

Uma metáfora, por exemplo, é um símbolo, porque entre a imagem empregada e o objeto ao qual ela se refere existe uma conexão, não imposta por convenção social, mas sentida diretamente pelo pensamento individual (PIAGET, 2015, p.192).

Esta reciprocidade por meio da inspiração, sensação ou intuição do qual aprimora o indivíduo, e também determina, porém, de forma oposta ao pensamento sociabilizado, isto é, se revela por imaginação, ficção, fantasia, encantamento, inventividade, visão dentre outros.  


Ademais, é um pensamento do qual se sublimou a natureza individual e mesmo íntima, por oposição ao pensamento socializado, porque ele se manifesta sobretudo no sonho e no devaneio.(PIAGET, 2015, p.192).

Cada elemento construído pelo indivíduo mediante ficção pressupõe certa estruturação por relevância, simpatia, afetuosidade ou imagem inventada, “pois todo simbolismo supõe um interesse e um valor afetivo, aliás, como todo pensamento” (PIAGET, 2015, p.194).
As ações advindas de um símbolo se processam por reconhecimentos, adaptações, assimilações, destaques, valores, prestígios, influências, empecilhos, obstáculos e interpretações diferentes. “O simbolismo procede por identificações, projeções, oposições, duplos sentidos etc.” (PIAGET, 2015, p.208).
A definição deste centro gerador que parece estar ausente no indivíduo para Piaget, pela visão de Freud e Jung, localiza-se no chamado inconsciente. Lá encontram-se todas as possibilidades sem nenhum tipo de controle racional ou social, de modo que, o sujeito está livre para fazer todo tipo de associações, segundo seus interesses, sem a censura, de forma que as imagens acessadas se tornam símbolos.

Dito de outra forma, o objeto (ou o significado) do símbolo acha se associado, no inconsciente, a todos os tipos de imagem, mas, sendo esse, objeto censurado, somente são toleradas pela consciência as associações com imagens que não o relembram de maneira demasiado evidente, essas imagens são, portanto, simbólicas na medida em que enganam a censura - e o papel das associações livres, então, é precisamente encontrar aquelas associações inconscientes que foram censuradas no momento da formação do símbolo (PIAGET, 2015, p. 215 - 216).



Neste caso, a racionalidade e a sociabilidade do indivíduo seleciona o que ele deve representar. Alguns pontos estimulam o sujeito é a acessar em nome da civilidade, urbanidade, entre outros e aquilo que não é permitido a conexão através da consciência, faz com que ele se desligue, pois “Isso só é compreensível se compararmos a consciência a um projetor, que ilumina certos pontos e se afasta de outros, pela vontade daquele que o aciona” (PIAGET, 2015, p. 216).
Novamente, o que aciona a percepção está ausente no indivíduo, isto é, do controle que decide iluminar alguns elementos e ignorar outros, entretanto, em certas circunstâncias, reconhecidas como simbólicas, certas conexões escapam desta restrição. Piaget, recorre a Freud que diz “a censura resulta da consciência e o simbolismo é produto de associações inconscientes que enganam a censura” (PIAGET, 2015, p.217).
Assim, para Freud a linguagem dita simbólica seria algo semelhante à comunicação primitiva, uma espécie de economia de pensamento ou disfarce frente às restrições. Estes fatores gerados por limitações provocariam efeitos representativos (disfarces) nos indivíduos.

Freud admitiu que o simbolismo constituía igualmente uma linguagem primitiva, mas é então, ao mesmo tempo, linguagem e disfarce: o mecanismo da “condensação” é nesse caso explicável por simples fatores de economia do pensamento, mas o “deslocamento” permanece sendo concebido como sempre resultante da própria censura (PIAGET, 2015, p.217).

São os impactos dos resultados destas representações elaboradas pelos indivíduos que se transformam em novas finalidades, atualizam realidades, mostram rumos, sentidos, e despertam os interesses dos indivíduos para ações orientadas pela ficção.  

PIAGET, Jean. A Formação do Símbolo na Criança: imitação, jogo e sonho, imagens e representação. Trad. Álvaro Cabral e Christiano Monteiro Oiticica 4ed. Rio de Janeiro: LTC, 2015.

Pensadores do Fórum do Amanhã

Como pensam alguns dos participantes deste fórum do amanhã?


Joaquim Luiz Nogueira 



Entre os pensadores deste fórum do amanhã, três deles são já tradicionais em suas ideias, Domenico de Masi, Eduardo Giannetti e Heloisa Starling, No entanto, os outros quatros, possuem ideias que navegam no limite entre racionalidade e ficção. Vejamos um resumo de suas ideias:

Kdu da Favelinha[i], com projeto social em Belo Horizonte MG, “Kdu tem muitos planos para o futuro. “Além da expansão do espaço físico, desejo que mais oportunidades sejam geradas dentro e fora da Favelinha, desfazendo o estigma que o morador da periferia é condenado a subempregos e modificando a perspectiva de vida das pessoas”,

Ele trabalha com os ideais dos moradores da periferia urbana e que formam a grande maioria dos aglomerados urbanos das grandes cidades, aqueles que segundo ele, “são condenados ao subemprego”. E como se trata de uma grande massa de pessoas e de consumidores, conta com ajuda de voluntários e patrocinadores, incluindo a grande mídia.
Outro pensador deste fórum é o Sidarta Ribeiro[ii] que faz pesquisa nas interfaces entre eletrofisiologia, etologia e biologia molecular, atuando principalmente nos seguintes temas:

1.   Sono, sonho e memória;
2.   Genes imediatos e plasticidade neuronal;
3.   Comunicação vocal em aves e primatas;
4.   Competência simbólica em animais não-humanos.

Para este pesquisador “Todas as noites, bilhões de indivíduos passam horas plugados no mais potente simulador de realidade virtual do Universo. Com ele, podem realizar desejos insuspeitos, explorar os limites da própria personalidade ou descortinar cenários e criaturas surreais. Não se trata de cenário de ficção científica —basta fechar os olhos e sonhar, diz o neurocientista Sidarta Ribeiro”.

O que está em jogo para Sidarta é o “descortinar de novos cenários e as criaturas surreais”. Estes sonhos surreais, segundo o pesquisador, podem fazer parte da construção da realidade das pessoas na formação de um mundo livre, tanto virtual quanto real.

A pensadora Rosiska Darcy de Oliveira é uma jornalista, escritora e acadêmica brasileira, que também participa deste fórum, cujas obras tratam principalmente de temas como o feminismo, a educação e a vida contemporânea. Aqui, embora o tema “educação e a vida” seja polemico, pois busca a introdução da vida cotidiana das pessoas na sociedade, principalmente as diferenças culturais e de gênero.

Outro pesquisador deste evento é Roberto Gambini,[iii] que sendo ele, terapeuta junguiano há trinta anos, Sua grande preocupação intelectual tem sido fazer confluir a psicologia junguiana e as ciências sociais. Segundo ele:

“Ficou o que tinha peso ou o que em mim estava arraigado a partir de um processo real. O tempo tirou coisas que eu dizia, mas que eram apenas teóricas, ou então coisas que eu não tinha vivido. Quando falo de uma coisa que não vivi, minha fala tem pouco ou nenhum efeito. No lugar dessas coisas, o tempo colocou outras, muitas vezes opostas a elas. Ensinou-me a olhar cada vez mais a realidade do paciente como ela é, a não ter medo de entrar nos labirintos onde ele se encontra, a não vir a ele com ideias prontas, a sempre admitir o imprevisível, o não pensado, o não vivido. A acreditar mais e mais no poder da vida, que é o poder de se autopreservar e de criar formas viáveis de existir. Ensinou-me a projetar menos no paciente. A distinguir melhor o que é uma coisa minha e o que é uma coisa dele”.

O que é novo neste pensamento é a forma de respeitar a realidade do paciente como ela é, e admitir o imprevisível, o não pensado, o não vivido. Trata-se de valorizar o que ele chama de “poder da vida”, ou seja, da autopreservação, a maneira de permitir e criar formas variáveis de existência. As novas configurações de sociedade do futuro pertencem, de acordo com este pensador, a um mundo de criação espontânea. A pergunta que fica, talvez seja: será que o capitalismo vai permitir esta existência espontânea? Ou, o consumo será o grande mediador deste novo mundo do imprevisível? Os alimentos e os medicamentos também serão espontâneos? As novas doenças e bactérias poderão ser produzidas?  



O século XVI e o surgimento do pensamento moderno



Joaquim Luiz Nogueira



Segundo Francastel, temos no surgimento do pensamento moderno (século XVI) a “Força da corrente Figurativa” que neste período, quando a coisa que nos encanta ou que nos provoca certo deleite, a ponto de nos transportar mentalmente para outros espaços imaginários, e também, capaz de reunir pessoas em espaços artificiais ao reproduzir  diversos horizontes sentimentais, ou seja, aquilo que “(...) introduz o maravilhoso (...) ilustra efetivamente a coabitação no mundo de um sistema de visualização tradicional e de um sistema inédito (...) os novos horizontes sentimentais” (FRANCASTEL 1983, p.243).
Para ilustrar essa ideia de como o relampejo de algo que nos encanta, pode compor novas ações por meio de um simples transporte via sentimentos, ou em alguns momentos históricos, cujo vislumbre do maravilho, foi capaz de construir ações na realidade de épocas históricas.
Desde o pensamento da Antiguidade, já temos o exemplo do filósofo Sócrates (470 a.C.- 399 a.C.) com sua frase “conheça a ti mesmo” e diante das situações políticas de sua época, ele confiou em sua tese de que, cometendo o suicídio com veneno cicuta, poderia provar aos juízes de seu tempo que sua conduta era justa, mas que naquele universo, não seria compreendido, então, sua postura foi confiar que mesmo com sua morte, suas ideias continuariam a existir, provando sua vitória.
"Eu predigo-vos portanto, a vós juízes, que me fazeis morrer, que tereis de sofrer, logo após a minha morte, um castigo muito mais penoso, por Zeus, que aquele que me infligis matando-me. Acabais de condenar-me na esperança de ficardes livres de dar contas da vossas vida; ora é exatamente o contrário que vos acontecerá, asseguro-vos (...) Pois se vós pensardes que matando as pessoas, impedireis que vos reprovem por viverem mal, estais em erro. Esta forma de se desembaraçarem daqueles que criticam não é nem muito eficaz nem muito honrosa[i]

Dessa maneira, Sócrates enfrentou seus inimigos escolhendo uma alternativa inédita para seu tempo, assim como suas ações em vida, que ensinava seu conhecimento de graça, o que contrariava a classe política de sua época. Também dizia que para se acreditar em algo, era preciso verificar se aquilo realmente era verdade, logo, orientava as pessoas a fazerem perguntas e críticas, tudo o que os políticos não queriam para o povo.
Antes de Sócrates, Buda ou Sidarta, que nasceu em aproximadamente 566 a. C, também ao ficar indignado com o sofrimento, a velhice, a doença e a morte, decidiu dedicar somente a vida espiritual ao desprezar o corpo e a materialidade. Seu objetivo foi a busca da iluminação espiritual e faleceu aos oitenta anos de idade, em 483 a. C.,
Mais tarde, no auge do domínio romano sobre outros povos, entre os judeus, nasce Jesus Cristo, que segundo o evangelho, falava sobre o Reino de Deus, um lugar de justiça, paz e alegria no espírito:  
O Reino de Deus, que não terá fim e que já está no meio de nós (Lc 17, 21), é justiça, paz e alegria no Espírito Santo (Rm 14,17); é o fim último ao qual Deus nos chama;[10] é obra do Espírito Santo;[11] e é também um império eterno que jamais passará e…jamais será destruído (Dn 7,14).[ii]

 E no século XVI, temos o homem que ao buscar a si mesmo, passa a incorporar papéis desejados, isto é, transforma-se em ator. E o ator substitui o homem e Deus. “A Natureza oposta ao Homem substitui Deus englobando em seu pensamento o universo. O Homem se considera a si mesmo, de bom grado, como um ator no teatro do mundo” (FRANCASTEL, 1983, p.244).
Dessa maneira ao criar o cenário e ao escrever sobre o papel ideal do ator, este último, tem a possibilidade de interpretar personagens perfeitos no palco do mundo, assim como, transmitir essa experiência para outras gerações: “a influência da compreensão ritual e eficaz do mundo, assim como a da interpretação racional do universo e que só se explica pela flexível evolução das várias gerações” (FRANCASTEL, 1983,p.245).
O pensamento moderno fez surgir o ator no lugar do homem natural, e juntamente com ele, toda uma nova linguagem, sendo esta, desenvolvida através do espirito científico moderno, ou seja, exigências dos novos cenários do maravilhoso, dos espetáculos que encantavam as pessoas. Estas cenas teatrais materializam-se também nas concepções ideais projetadas para o cotidiano.
“o progresso das novas linguagens reflete essa marcha hesitante do pensamento moderno .... abre caminho as novas experiências ... nascidas do espirito cientifico moderno, as tradições maravilhosas do espetáculo popular. Ele materializa então, no par cena-sala solidários, a concepção ideal do microcosmo – macrocosmo que constitui o fundo da filosofia dos tempos modernos... o século XVI aparece como um período em que as duas tendências se confirmam sem se defrontar nem se fundir. (FRANCASTEL, 1983, p.245).

A partir da cena teatral apresentada pela imaginação do ator, que nasce novos pensamentos na modernidade. Eles são frutos da concepção e do entendimento do indivíduo. “Não é a forma que cria o pensamento nem a expressão, mas é o pensamento, expressão do conteúdo social comum de uma época, que cria a forma” (FRANCASTEL, 1983 p.249).
Portanto, segundo Francastel, é pela presença da coisa vista que se explicam as imagens construídas na modernidade. Elas representam “horizontes vividos”, isto é, alargamentos de contextos materiais, culturais e intelectuais da humanidade, espécie de utopia estética que cria imensos horizontes positivos.
Cerca de 1480 uma mudança radical intervém nos ritos sociais ao mesmo tempo que no sistema figurativo do século. Inspirado até então pela visão dos espetáculos populares, os artistas transpõem o mais das vezes cenas vistas na rua durante verdadeiras liturgias civis mais importantes que os mistérios – que constituem apenas um momento destes e que utilizam aliás igualmente um vasto material de objetos e de emblemas emprestados aos últimos séculos da Idade Média. Esses vastos “espetáculos não-teatrais”, que culminam cortejos e em justas, marcam o ritmo paralelo da vida humana e dos ciclos da natureza; eles pontuam a vida popular das cidades (FRANCASTEL, 1983 p.284).

A mudança do sistema figurativo entre o século XV para o século XVI está no contexto da visão dos espetáculos de mistérios populares que alimentavam as imaginações para as observações de artistas, que ao acompanhar os acontecimentos de rua durante certos rituais ou liturgias, criava em paralelo aos mistérios, alguns recortes, que se transformaram em emblemas, dando origem a um ritmo paralelo na vida humana.
De acordo com Francastel, esta mudança começa ocorrer junto a poesia amorosa, pois “seus versos estão intimamente entremeados ao tecido de sua própria aventura sentimental” (FRANCASTEL, 1983, p.287). Trata-se da incorporação ao imaginário do individuo pela trama que está a sua volta, ou seja, algo imaginado ou sentido que pode renovar a vida.
Assim como um cheiro, um sabor ou um perfume, ambos capazes de anunciar algo que nossa imaginação tem como buscar via memória, possíveis representações semelhantes e aproximadas, pelas quais, podem -se criar ou renovar a vida: “Há portanto no renovamento da vida pelo Amor  como que um presságio daquilo que nos espera depois de nosso fim e eis porque os cantos de amor são dignos de toda atenção; eles são a prefiguração de destino da alma humana” (FRANCASTEL, 1983, p.287).
Esta atitude humana pode atenuar segundo Francastel “a lei dos ciclos eternos” de vida e morte, pois, o perfume do além pode amenizar o desespero do destino por meio da contemplação do maravilhoso. É dessa maneira que a vida tem como triunfar sobre a morte, ela se antecipa o encontro com o deslumbrante, evoca a ideia de um outro mundo.
Para Francastel, quando nos encantamos por uma imagem ou “pela força efetiva de um objeto amado” este age à maneira das forças da natureza que regem o universo: “a amante faz reflorir a alma do amante como a primavera faz reflorir a terra” (FRANCASTEL, 1983, p.290).
Neste contexto do amor do final do século XV, Francastel retoma o pensamento dos platônicos que dizia:” o espírito, os olhos, e os ouvidos podem nos guiar, os outros sentidos apenas  são incuravelmente vis” (FRANCASTEL, 1983, p.291). Dessa maneira, algumas imagens podem transportar desde a alegoria do coração de um artista que lhe produziu até o gosto de toda uma sociedade.

Referências bibliográficas

FRANCASTEL, Pierre. A Realidade Figurativa. São Paulo: Perspectiva, 1983



[i] https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%B3crates Acesso em 02 de julho de 2019
[ii] https://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_de_Deus Acesso em 02 de julho de 2019

Autoridade Simbólica

                                                                                                               Joaquim Luiz Nogueira



Não se trata de uma pessoa, porém, de uma autoridade simbólica. Ela é um título que se identifica com aquele que deve agir como um prolongamento ou acréscimo da instância simbólica na qual é representante. Encarnado nesta autoridade simbólica que fala através do corpo e por suas palavras, cujo ato, praticamente, anula o ser vivo, enquanto este se identificar com o mandato simbólico que lhe confere autoridade a sua pessoa.
O órgão sem corpo que discursa através da pessoa, cujo suporte, é algo fantasmático, permite apenas uma pequena visão da lacuna que mostra um ser vivo com inconsistências múltiplas. Trata-se de um sujeito controlado por um agente mítico – invisível ou figura fantasmática.
A pessoa real na qual se corporifica neste título age como a personificação desta instância fictícia irreal, sendo um substituto da autoridade simbólica pública, isto é, da aparição espectral invisível que age na sombra, invisível aos olhos do público.
Uma vez corporificado por esta instância simbólica, ele deve irradiar onipotência espectral em seu mandato simbólico, pois segundo Kant, diante do fracasso da representação, deve se usar a palavra “adequação” pois incita o entusiasmo. Porém, Habermas, em sua ética do ideal de comunicação, pressupõe que “o ideal de uma comunicação, já se realizou e que se deve acreditar e agir neste sentido.  

O Garimpeiro e o Mercador


Texto de Slavoj  Zizek 

Nosso terceiro exemplo vem da “vida real” em sua forma mais brutal: os atos de violência (tortura e assassinato nas comunidades de garimpo na bacia do rio Amazonas. Estamos falando de comunidades isoladas em que é possível observar a lógica das relações de poder e da erupção da violência em condições de laboratório. Por assim dizer. Essas comunidades consistem  numa multiplicidade dispersa de garimpeiros individuais; embora nominalmente sejam livres empreendedores, todos dependem do mercado local, que monopoliza o comércio na área. Os mercadores lhes vendem comida, ferramentas e outros utensílios; e compram deles suas pepitas, todos têm dívidas altíssimas com os mercadores, que não as querem liquidadas, pois todo o poder que exercem está baseado na dívida permanente dos consumidores. As relações sociais nessas comunidades são reguladas por uma dupla ficção, ou melhor, pela coexistência sobredeterminada e paradoxal de duas ficções incompatíveis. De um lado, temos a ficção da troca igualitária, como se o garimpeiro e o mercador fossem dois sujeitos que se relacionam no mercado em termos iguais. O anverso disso é a imagem do mercador monopolista como Mestre patriarcal que cuida de seus consumidores, sendo estes quem pagam aquele por esse cuidado paternal, com amor e respeito. Por trás dessa ficção contraditória existe, é claro, a realidade do monopólio dos mercadores, de sua exploração brutal. A violência que eclode nessas comunidades de tempos em tempos se dirige principalmente contra quem representa uma ameaça ao frágil equilíbrio dessa ficção dupla: os alvos preferidos dos mercenários do mercado não são as pessoas incapazes de pagar suas dividas, mas sim quem tenta sair da região  ainda endividado, especialmente quem teve êxito e agora tem condições de liquidar sua divida – essas pessoas são as que mais ameaçam o poder dos mercadores. (uma situação típica é um mercador mandar chamar um garimpeiro cuja divida é muito alta e lhe propor cortar sua divida pela metade se ele atear fogo na casa de outro garimpeiro bem-sucedido.) o que temos aqui é um caso exemplar de como o desejo se inscreve na ambiguidade (....) o desejo oficial do “mercador” é que seus clientes paguem suas dívidas o mais rápido possível – ele os acossa por estarem  atrasados no pagamento -, mas seu verdadeiro temor é que os  endividados lhe paguem, isto é, seu verdadeiro desejo é que todos continuem endividados indefinidamente.

Fonte: Slavoj Zizek, Interrrogando o Real p. 248 -249 . Belo Horizonte: Editora Autêntica, 1ª Ed. 2017. 

O Sopro ou Alma que Habita o Corpo Matéria

Joaquim Luiz Nogueira

A alma como produto construído pelo “Todo Infinito”, compõe-se como elemento programado e reprogramado por segmentos deste complexo em construção. Ela representa a diversidade deste infinito em construção e atualizada constantemente para atuar de acordo com as possibilidades oferecidas pelo “Todo”, cuja missão, está mais próxima de um teste, pois sua ação se junta ao projeto de origem em dimensões cósmicas.
A escolha da matéria para incorporação deste sopro é programada por decisões advindas do “Todo” e atende as demandas da diversidade, sendo a sua liberdade e o conhecimento, também elementos planejados por sua origem. A natureza da matéria, algo que também significa processo de construção do “Todo” e se vincula ao projeto de diversidade infinita, cujo controle representa os interesses vencedores em momentos cósmicos.
 A vida como produto do “Todo Diverso e Infinito”, programada e reprogramada pelos interesses advindos de ações originárias dos segmentos cósmicos, sendo esses, responsáveis pela fabricação da realidade concreta (matéria). Algumas vidas que não correspondem as perspectivas e interesses de sua origem ou que já cumpriram sua missão, são descartadas e se tornam “resíduos”.  Tais detritos são incorporados ao “Todo” e poderá compor novas vidas.
O Universo denominado como “Todo diverso” evolui de forma total  e cria realidade, segundo as forças vencedoras em cada etapa, desse modo, cada contexto real significa o resultado de lutas travadas em outras dimensões. As forças derrotadas não são eliminadas, elas continuam como resíduos aguardando possibilidades para atuarem após certas correções em supostas falhas, então, projetam-se novamente para criação de novas realidades concretas que representem suas vontades.
Cada forma de vida existente no mundo real faz parte de um projeto advindo do “Todo Diverso”. Trata-se de idealizações de segmentos, no qual, projetaram suas incorporações na matéria, sendo que, cada forma de vida carrega parte dos desejos cogitados em algum segmento do “Todo”.
O corpo ou a matéria criada para atender esses anseios advindos de parte do “Todo”, caso não consiga atender sua programação para criar realidades concretas, pode ser descartado enquanto matéria e retornar como força para o segmento de origem.
Tal “força” ou essência não há fim no universo do “Todo Diverso”, cujo retorno em outra matéria depende dos projetos dos segmentos que compõem a totalidade cósmica. Temos que salientar que a matéria na qual a força ou sopro se incorpora não oferece estrutura suficiente para compreender o projeto da qual faz parte enquanto realizador da vontade daqueles que te enviaram ou talvez, seja você mesmo que mergulhou para esta missão.
O segmento projetor do sopro, responsável pela projeção ou vida, dificulta a comunicação deste último com sua origem, assim a vida torna-se uma espécie de espelho que reflete os anseios de sua fonte, porém limitado pela matéria ou corpo. Para que o sopro possa ampliar o entendimento de seu criador, ele deve acrescentar conhecimentos advindos do projetor e para isso, inventar novas ferramentas que possam traduzir a linguagem da origem, ou seja, apoiar-se a outros espelhos refletores que facilitem a leitura.
Outra saída para melhorar essa comunicação seria uma viagem pelo fluxo de luz até o projetor e retornar para a matéria e conseguir traduzir a linguagem que vivenciou, na maioria das vezes, não existem palavras para comunicar tal informação.

O ser humano e a realidade fantasmática

                                                                                                                Joaquim Luiz Nogueira 




O ser humano enquanto aquele que tem como pretensão a ideia de que vive num tempo real, talvez devesse buscar entender um pouco mais sobre o quanto ele é dependente do elemento mediador ou da linguagem simbólica para avançar neste processo pulsante que se denomina como vida.

O simbólico mostra para o ser humano o peso daquilo que lhe está ausente, a ferida aberta, o grito que tenta organizar indicando o rumo. É a voz que segundo Jaques Lacan, denomina-se de o grande Outro, sendo a fala advinda da cultura, família, tradição, entre outras destes segmentos.

O clamor daquilo que está ausente no ser humano e que se torna uma espécie de elemento responsável pelo seu movimento de corpo, assim como, pela organização de sua rotina, transforma o ser vivente em algo que nunca está completamente satisfeito, por mais que faça, algo está sempre faltando.

O problema está na sua incapacidade de capturar por completo aquilo que sua imaginação anseia e até visualiza em imagens deslumbrantes, porém, não consegue dar conta da compreensão desta linguagem que está além de seu limitado corpo. Lacan chama isto de real ou resíduo que não pode ser eliminado, nem capturado.

E por último, o ser humano que pensa ser o construtor de seu caminho, portanto, com seu esforço, ele cria toda uma gama de objetos materiais, e assim, cerca seu espaço com relações de proximidades com a realidade imaginada. Dessa maneira, sua realidade fantasmática se aproxima da realidade por meio da representação ou da interpretação de papéis ideais.

Tanto o cenário do mundo, tal como o corpo, ambos são bastante frágeis para abrangência de uma imaginação tão fértil, o que indica vestígios que o real que não damos conta de capturar e nos empurram para uma realidade fantasmática, de algum modo, também, testemunhe certo vínculo, talvez, o avatar de si mesmo, que comanda de outro tempo e espaço.

Fotografia, imagens e símbolos.



                                                                                                           Joaquim Luiz Nogueira 

Segundo Jean - Marie Floch, a fotografia pode ser analisada de forma referencial ou interpretativa, assim como de forma construtiva numa visão utópica ou mítica.  Para Philippe Dubois, o referente real é sentido como dominante na fotografia, pois como afirma Barthes, ela é emanação do referente. Na linguística, o referente significa: o elemento do mundo extralinguístico, real ou imaginário, ao qual remete o signo linguístico, num determinado contexto sociocultural e de discurso.
A interpretação da fotografia a partir do ângulo das aparições do referente é descrita por Roland Barthes no seu livro Câmara Clara, Dessa forma, temos as seguintes modalidades denominadas de choque ou surpresas: raridades, gestos decisivos, proeza, técnica e descoberta. Elas são rupturas de expectativas ou surpresas perceptivas.
Para Barthes, a fotografia é “convivência de contrários”, que se estende desde o nível de materialidade mais evidente até o nível de maior complexidade e abstração. Os pontos de vista do fotógrafo de acordo Lucia Santaella: são sempre histórica e culturalmente convencionados.
A foto como fragmento,segundo Santos Zunzunegui no livro Pensar la imagen,  também significa a eleição de um espaço que se decide mostrar e a eliminação do espaço que fica além dos limites  do enquadramento. Sontag, afirma que o triunfo da foto está em descobrir a beleza no humilde, no inepto e no decrépito. Para ela, fotografar é redimir o simples, o banal e o modesto, ou seja, ampliar a realidade inacessível.
Santaella nos lembra que fotografia é registro e traço,algo que mostra a realidade como jamais havia sido vista antes. Ela é vestígio e revelação, significa o aspecto diferente que as coisas têm quando fotografadas. Jean  Arrouye fala que “a fotografia desborda o real de sua realidade”, pois segundo Susan Sontag, alteram nossa apreensão da realidade e também cria novos modos de produzir e interpretar as próprias fotos.
De acordo com Dubois, a força que trabalha subterrânea na fotografia e que  está por trás das aparências, é a mesma que funda o desejo humano. É uma presença afirmando uma ausência, e esta última, afirmando a primeira. Dessa maneira se constitui segundo ele, o próprio desejo ou o milagre.
Para Santaella, a fotografia é o acesso instantâneo ao real. Pois Sontag nos fala que possuir o mundo sob forma de imagem é voltar sentir a irrealidade e o afastamento do real. Significa reabrir uma brecha de nossa alienação, que em primeiro lugar tomamos distância para o encontro com o real que se revela de forma exorbitante, mas na fotografia, o distante, o afastado ou perdido não se incorpora.
Na fotografia, duas forças antagônicas coexistem segundo Santaella, seria o movimento de atração ou fusão com o real e o movimento de recuo, ou seja, separação e corte. Para Dubois, a fotografia se emana do objeto, mas permanece separada dele, trata-se do limite entre o real (objeto) e sua representação (fotografia) algo que é intransponível, ou seja, uma separação entre o ali daquilo que ele (objeto) indica e o que está nele representado.
A fotografia é o poder humano de duplicar as coisas visíveis de acordo com Zunzunegui, reprodução imagética do visíve ou povoamento de duplos, réplicas do imaginado e do invisível. Para Santaella, fotografia é um signo, pois referencia aquilo que está fora dela e que ela registra, Isto é, tem relação com aquilo que é por ele (signo) indicado ou que está nele representado.   
De acordo com Santaella, a fotografia funciona como signo porque ela representa, substitui, registra e está no lugar de alguma coisa, que não é ele (signo) próprio. Dessa maneira, Santaella completa, os signos e, entre eles, as imagens, são mediações entre o homem e o mundo.
O homem acrescenta Santaella, devido à sua natureza de ser simbólico, de linguagem e falante, a ele, não é nunca facultado um acesso direto e imediato ao mundo. Tal acesso é mediado por signos e suas modalidades, entre elas, a imagem, pois têm o propósito e a função de representar e interpretar a realidade. Vilém Fluser nos fala que signos possuem função de mapas.    
Segundo Santaella, a fotografia tem o caráter de imortalidade, já que cria a onipresença latente, algo fora do tempo e do espaço, em qualquer lugar, em qualquer momento.   Para ela, o objeto fotografado é tragado de outro mundo, significa a morte de um instante capturado de outro tempo, cuja duração é infinita, indeterminada e eterna. O signo, afirma Santaella, pode estar no lugar do objeto, pode indicar o objeto, pode representar o objeto, mas não pode ser o objeto. O signo pode ser até mesmo uma emanação do objeto, mas o objeto continua a ter uma existência independente.      
As imagens se tornam símbolos de acordo com Santaella quando o significado de seus elementos, só pode ser entendido com ajuda do código de uma convenção cultural, assim, primeiro vem o veiculo do signo, depois vem o objeto (que é secundário ou surreal), depois temos a convenção cultural (terceiro ou interprete).
Neste aspecto, a imagem simbólica, segundo Santaella, uma vez degenerada na direção da secundidade é a pintura surrealista. Da mesma maneira, que os símbolos do sonho são, assim, estruturas indexicais da psique, associações das afirmações dicentes (é aquele que aprende) na relação do interpretante da imagem dos sonhos.   

Fonte: SANTAELLA, Lucia e NÖTH, Winfried. IMAGEM, Cognição, semiótica, mídia. 2. ed. São Paulo: ILUMINURAS, 1999.

A fotografia e o ponto de vista do fotógrafo

Foto: Maria do S. Delfiol Nogueira 

                                           
                                                                                                                       Joaquim Luiz Nogueira


A fotografia acima, sendo analisada como recorte, espécie de janela, cujo foco de enquadramento configura a sombra como base física, que mesmo rompida pela linha reta branca e o cinza escuro, permitem o aparecimento de faixas amarelas, e estas, contrastam com a cor da faixa abóbora entrecortada para prolongar a visão em três direções: o contínuo da estrada, a exuberância das cerejeiras e o infinito do céu azulado.
A estrada registrada como base de sustentação, espécie de início em uma mistura de escuridão e relances de raios solares que atravessam no sentido vertical e ao mesmo tempo, chamam a atenção para existência de outra presença e quebra a linha reta branca que direcionava o olhar para o distante ou aquilo que estava indefinido.
Do encontro das luzes amareladas com as sombras, o olhar se deleita com as cores contrastantes que passam do escuro para o verde, sendo completado pelo rosa iluminado dos galhos das cerejeiras, que sem folhas, deixam a visão escapar por pequenas janelas, exibindo um fundo de céu azulado, que diverge com o outro lado da cena fotográfica.
Este fundo de céu azul sob o enquadramento da fotografia contribui para dimensionar os aspectos da profundidade, que guiadas pelas contradições de luz e sombra, esquerda e direita, tem nas cores continuas das faixas brancas e laranjas, um ideia de sentido, logo rompida pelos pequenos relances de raios solares que cruzam a estrada e retiram o olhar desta direção linear e apontam uma riqueza de cores e possibilidades que caminham de forma paralela a esta estrada.  
As observações foram elaboradas segundo as teorias de Jean Marie Floch e Algirdas Julius Greimas.

Caminhos da Serra de Botucatu

Imagens dos caminhos da Serra de Botucatu 
Flor da serra 
Portais 

 Estrada
 Ruínas 
 Ruínas
 Ruínas
 Moradias Antigas 

Chupim do Brejo 
 Estrada cortada por rio 
 Base da nuvem 
 Base da nuvem 

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