A Simbolização da Grandiosidade pelo Indivíduo


A Simbolização da Grandiosidade pelo Indivíduo


 Joaquim Luiz Nogueira 
A construção do Individuo pelo símbolo - Parte 5 

Pressupomos que todo indivíduo seja finito enquanto matéria, no entanto, ele também se depara com grandezas como o universo, que indica certo limite de seu conhecimento humano. Este espaço indeterminado e inumerável se contrasta com a limitação de cada pessoa, cujo desejo de participar desta vastidão permanente, leva a se identificar com esta grandiosidade que lhe parece eterna.
Ao se contrastar a limitação de cada ser com o ilimitado que o cerca, a mente também produz uma imagem da beleza representativa idealizada nesta amplitude, pois, “O belo é uma representação simbólica do infinito, pois assim fica ao mesmo tempo claro como o infinito pode aparecer no finito” (TODOROV, 2014, p.316).
Desse modo, o indivíduo se constrói de maneira que ele possa intercalar o belo entre as falhas de suas limitações ou trajetória, e neste sentido, muitas vezes, emprega esta qualidade por meio de representações simbólicas.
Ao representar essas qualidades de grandeza infinita, o indivíduo também incorpora às virtudes atribuídas a mesma e que ele a considera como posturas ideais. E, uma vez incluídas, o sujeito se vangloria da sensação de totalidade das mesmas e passa a ajustar sua necessidade com base nelas.

Os objetos assim representados parecem existir por si mesmos apenas e são, porém, significativos no mais profundo de si mesmos, e isso por causa do ideal, que sempre carrega consigo uma generalidade. Se o simbólico indica ainda outra coisa além da representação, será sempre de maneira indireta (TODOROV, 2014, p.317).




O indivíduo se constrói via representação de algo que lhe é ausente, sendo suas ações, na maioria das vezes axiomáticas, isto é, incontestável para ele, pois naquele momento lhe parecia à única saída. São respostas captadas, percebidas, simbólicas. “O símbolo é próprio à maneira intuitiva e sensível de apreender as coisas” (TODOROV, 2014, p.317).
O símbolo fala com o indivíduo por meio de pensamento e ideias, isto é, quando ele tem a compreensão ou juízo de algo, houve uma conexão simbólica, que lhe apresentou rumos, cenários, entre outros, “Assim, o símbolo dirige-se à percepção” (TODOROV, 2014, p.319).
A construção do indivíduo se dá por meio de modelos ou padrões em que, ele próprio o interpreta no sentido de estar preso a uma espécie de molde. A identificação pessoal se revela como resultado de uma ordem maior. “O simbólico é o exemplar, o típico, o que permite ser considerado como a manifestação de uma lei geral” (TODOROV, 2014, p.320). 
Um mesmo símbolo pode fornecer resultados diferentes para cada indivíduo e são essas soluções diversificadas, que geram conotações e interpretações que constituem sujeitos distintos. “O símbolo produz um efeito e, somente através dele, uma significação” (TODOROV, 2014, p.321).
Podemos pressupor que o indivíduo, também é simbólico, pois ele tem dificuldades para se identificar, nesse sentido, basta nos referirmos à frase filosófica atribuída ao filósofo grego Sócrates “Conheça a Ti Mesmo”. A pessoa pode se identificar com um nome, uma ideia, porém, sua resposta esconde a participação de outras representações. “O objeto simbólico, ao mesmo tempo, é e não é idêntico a si mesmo”. (TODOROV, 2014, p.323).
O indivíduo enquanto objeto simbólico pode se qualificar com a mescla daquilo que é, e a coisa que deseja ser, mesmo que seu ideal seja grandioso ou infinito. Desse modo, ele pode não simplesmente se identificar, mas se sentir como parte do eterno, ou seja, com qualidades idênticas por meio desta fusão.

Quanto ao símbolo, ele se caracteriza pela fusão desses dois contrários que são o geral e o particular, ou segundo a formulação preferida por Schelling, porque o símbolo não apenas significa, mas é, ou seja, pela intransitividade do simbolizante. No símbolo “o finito é ao mesmo tempo o infinito mesmo e não apenas o significa” (TODOROV, 2014, p.330).

Nesta situação ocorre a junção entre o sujeito, objeto em processo de construção e a fase completa de sua escolha, isto é, ele se sustenta com algo que considera de extrema relevância, a ponto de se sentir como parte integrante daquilo em que acredita. “O símbolo é, (...) funde significante e significado” (TODOROV, 2014, p.338).
O procedimento de estruturação do indivíduo pela coisa que ele considera como ideal, acontece de forma concomitante com sua ação presente. Todo ato, incorpora um passo no sentido de um ideal imaginado. “Há no símbolo uma simultaneidade entre o processo de produção e seu acabamento; o sentido só existe no momento de seu surgimento (...) o símbolo é capaz de exprimir o indizível” (TODOROV, 2014, p.340).
Para exemplificar a atuação do símbolo no indivíduo, Todorov recorre a Creuzer[1], que compara o símbolo ao “relâmpago que de uma só vez ilumina a noite escura” (TODOROV, 2014, p.342). Essa espécie de faísca é interpretada também pelo indivíduo como luz, imagem, concepção, inteligência, pensamento, entre outros.
Todorov nos explica que o ato simbólico é quando o indivíduo se posiciona no mesmo âmbito daquilo que ele julga também pertencer. Desse modo, a pessoa passa a ter a mesma competência do objeto que lhe representa no momento presente.



Não é uma relação de identidade, como acredita outros (nesse caso não mais haveria simbolização), mas de pertença; o símbolo é o ser, no sentido de fazer parte dele “Da pertença ao símbolo, tal como entendem os primitivos, a transição pode ser imperceptível. Pois o símbolo, assim como a pertença, participa do ser ou objeto que ele “representa”, e com isso mesmo garante a sua presença atual” (TODOROV, 2014, p.378).

Quando nomeamos um objeto pela sua aparência ou cor, por exemplo, chamamos a fruta laranja pela sua tonalidade, e esta, passa a ser reconhecida pela sua pigmentação. De modo semelhante, a simbolização de uma coisa qualquer, faz associação com outra via sentido, isto é, significado que conecta presença, indivíduo e finalidade.
Os gregos definiam isso com a palavra “trópos”, espécie de curva ou desvio, que facilitava a retórica, pois criava um jogo, cujo sentido da coisa não era nítido e poderia também manifestar outros aspectos. E deste modo, similarmente, Todorov nos afirma que “os símbolos têm parentesco com os tropos[2]” (TODOROV, 2014, p.380).
Outra figura de linguagem que podemos citar é a sinédoque[3], palavra grega “synekdokhé”, que significa a compreensão de várias coisas ao mesmo tempo. Tal artifício é empregado quando o indivíduo generaliza um determinado conceito, ou seja, toma uma parte pelo todo.


Esses recursos em que referimos acima estabelecem que os indivíduos façam construções ou desenhos, simbolizando coisas que possam conectar diferentes objetos: pegada (rastro) e homem, casa e habitante. Trata-se de uma relação que emprega a metonímia, o indivíduo, troca uma palavra pela outra, devido às relações de contiguidade, isto é, proximidade do vestígio com a coisa ou lugar.
Tal desenho só tem sentido quando gravado em um objeto particular; é através da relação metonímica de lugar que ele ganha sentido. O mesmo acontece com a moradia que simboliza seu habitante, ou a pegada e o homem (TODOROV, 2014, p.381).

A relação de associação entre um nome e uma coisa faz com que o indivíduo considere que tal realidade é parte da outra. Neste sentido, “todo ataque ao nome (ou ao símbolo) – é um ataque ao ser – pois um faz parte do outro” (TODOROV, 2014, p.382).
Nesta perspectiva, temos também as representações e imitações, cujo indivíduo, coloca em pratica aquilo que ele desejaria que acontecesse. Para isso ele evoca palavras, faz gestos e se comporta de modo previsto, segundo sua vontade, isto é, suas ações criam a realidade.

Do fato de o simbolizante ser parte do simbolizado: representar ou dizer uma coisa já é fazê-la existir. Assim, as predições se realizam não porque os adivinhos saibam ler o futuro, mas porque essas palavras dão vida ao que designam (TODOROV, 2014, p.383)

De acordo com acontecimentos inesperados, o indivíduo busca a todo instante certo equilíbrio e ao se deparar com situações desconfortáveis, todo esforço é concentrado no sentido que se estabeleça a igualdade com aquilo que o sujeito reconhece como justiça. Todorov nos aponta esta conexão da seguinte forma “Eis-nos, portanto, diante de uma nova relação, própria dos sistemas de símbolos; poderíamos chamá-la de equivalenciação” (TODOROV, 2014, p.385).
O indivíduo pode corporificar várias coisas a partir de uma frase que seja por ele pronunciada ou que tenha presenciado. Neste caso, a sentença do tempo atual simboliza todas as outras e as tornam presentes, mesmo que estejam ausentes. Trata-se do termo de condensação de Freud, citado por Todorov:

A condensação é a relação entre uma frase presente e uma ou várias frases ausentes (que a primeira simboliza segundo este ou aquele processo) (...) é uma relação entre duas ou mais unidades, todas presentes (TODOROV,2014, p.404).

Assim, o indivíduo toma para ele via representação, palavras, frases, objetos e coisas, que possam acrescentar nele o sentido da grandiosidade. Ele se constrói como pertencente a um universo maior, criador de uma nova realidade, na qual, se posiciona como aquele que é justo, revestido de valores ideais. 


[1] Georg Friedrich Creuzer foi filólogo, arqueólogo, orientalista e mitólogo alemão. Filho de um encadernador de livros, estudou na Universidade de Jena indo em seguida para Leipzig onde deu aulas particulares. https://pt.wikipedia.org/wiki/Georg_Friedrich_Creuzer Acesso em 22 de abril de 2017.
[2] Recurso expressivo em que se associa o sentido de uma palavra a outra, à qual é dado um  sentido diferente do literal (é o que acontece, por exemplo, na comparação, metáfora ou metonímia).  Do grego trópos, «volta; desvio», pelo latim tropu-, «idem» https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/Tropos.  Acesso em 03 de julho de 2017.
[3] Recurso expressivo que se baseia numa relação de compreensão em que se designa o todo pela parte ou a parte pelo todo, o plural pelo singular ou o singular pelo plural, etc. (ex.: o homem por a espécie humana) Do grego synekdokhé, «compreensão de várias coisas ao mesmo tempo», pelo latim synecdŏche-, «idem» https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/sin%C3%A9doque  Acesso em 03 de julho de 2017.


Nossas conquistas são probabilidades ou vontade do universo?



Nossas conquistas são probabilidades ou vontade do universo?

                                               “Nosso conhecimento é probabilístico”[1].

O grande teórico norte americano Dain Heer[2], autor de vários livros, entre eles, “Sendo Você, Mudando o Mundo” espécie de manual de barra de access com infinitas possibilidades. E dentro deste universo, ele defende que: o ponto de vista humano pode criar realidade.
Para Dain Heer, o fato de indagarmos algo, provoca toda uma reação no universo, pois ele tende a nos oferecer uma resposta sobre a pergunta em questão.  Tudo é possível, porém, em variáveis imediatas até infinitas de tempo, e sua frase preferida seria parafraseando o texto bíblico: peça e receberás.   
Aqui faremos um paralelo entre Dain Heer e a energia quântica do Princípio da Incerteza de Werner Heisenberg, descrito por Vinicius Carvalho da Silva, mestre em Filosofia da Ciência e Teoria do Conhecimento. Segundo a equação de Schrodinger, a chamada partícula de elétron se ramifica em diversas realidades superpostas e respondem as probabilidades segundo as coordenadas espaciais e temporais.
O que significa dizer que o elétron, antes de ser observado, ele existe em todos os lugares possíveis e com todos os níveis de energia possíveis e em todas as velocidades possíveis, mas com distribuição desigual de probabilidades para cada uma destas realidades potenciais:

De acordo com a equação de Schrödinger, podemos inferir que, enquanto não sofrer um colapso observacional, o elétron se ramifica em diversas realidades superpostas, em cada qual apresentará uma maior probabilidade de ser identificado a um vetor que relacione suas coordenadas espaciais (x,y,z) em um espaço de Hilbert com uma coordenada temporal t.2 Ou, seja, de acordo com esse modelo, o elétron, antes de ser observado, existe em todos os lugares possíveis, com todos os níveis de energia possíveis e em todas as velocidades possíveis, mas com distribuição desigual de probabilidades para cada uma destas realidades potenciais.(SILVA, 2014, p.3).

A energia desta partícula (elétron) interage com a natureza ao gerar um campo de força em sua vizinhança quando se move, assim como na pessoa que lhe observa, já que o corpo humano possui trilhões de moléculas e estas por sua vez contem elétrons. Neste contexto, ao fazermos uma pergunta ao universo, logo, como  esta partícula existe em todos os lugares possíveis e nos diferentes níveis de energia e velocidade, o tempo de resposta também pode variar entre o imediato e o infinito.
De acordo com a equação de Schrödinger, todas as probabilidades são concomitantemente reais. Sendo assim, no nível quântico, uma probabilidade deixa de ser compreendida como uma “possibilidade” e passa a ser entendida como uma “potentia objetiva do mundo” (SILVA, 2014, p.3).

Se partirmos do princípio de que podemos acessar possíveis comunicações sem os limites de tempo e espaço, logo, a simples evocação via pensamentos, imagens, palavras ou escritas, estabelecem elos com seus destinatários, mesmo que estejam distantes. Tal conversação ou retornos dependem de infinitos fatores semelhantes aqueles que constroem as realidades, isto é, se encontram em constantes processos de construção e necessitam de certas afinidades de valores para acontecerem:

Nosso conhecimento sobre o nível quântico, de acordo com tal princípio, será sempre “inexoravelmente” limitado. O máximo que podemos obter com relação a estes dados são seus valores prováveis, mas nunca seus valores exatos. (SILVA, 2014, p.4).

Todas as perguntas que fazemos ao universo podem ser interpretadas segundo o princípio de incerteza formulado por Werner Kart Heisenberg, teórico alemão responsável pela criação da mecânica quântica. Nela nunca vamos poder conhecer ou observar com precisão, pois até a própria natureza, de acordo com ele, não possui valores definidos e precisos:
A implicação epistemológica deste princípio é a limitação inevitável do empreendimento intelectual em face da natureza. Nunca conheceremos a natureza com absoluta precisão, ou porque nunca “podemos” observá-la precisamente (como defendem os que postulam que a incerteza é provocada por uma inevitável perturbação entre os instrumentos de medida e os objetos medidos) ou porque a própria natureza não possui valores precisos (como postulam os que defendem a tese de que a incerteza é uma característica necessária, ontológica, da própria natureza quântica). (SILVA, 2014, p.4).

Ao nos interrogarmos sobre se podemos ter um dia maravilhoso, segundo a teoria de Dain Heer, estamos fazendo uma pergunta ao universo, que iniciará a partir deste questionamento, toda uma ação para atender aquele pedido, o que não significa uma resposta imediata, pois depende de uma gama de elementos, cujo indivíduo ainda não possui o conhecimento, e logo, o resultado pode ser um arranjo do que foi possível para aquele dia.
O período de tempo em que o indivíduo desejou ser maravilhoso não depende exclusivamente dele, portanto ele questionou o universo, que devido a incerteza da pessoa, outros dados também podem não contribuir junto a esta realização, assim, o encadeamento não ocorre da forma almejada:
Isto ocorre porque se há incerteza acerca de x, então não posso determinar com precisão nem o estado passado de x, nem seu estado futuro, bem como não posso determinar de modo inequívoco um encadeamento causal entre os diferentes estados de x em diferentes momentos do tempo. (SILVA, 2014, p.4).

De acordo com esta teoria do princípio da incerteza, outra maneira de interpretar pode se dizer que é a realização do objeto desejado por meio da existência de  uma experiencia específica já estabelecida pelo indivíduo, na qual, já determinou de forma qualitativa o que seria maravilhoso naquele dia, valores que o mesmo considera como magnifico, portanto, uma interpretação positiva daquilo que irá presenciar naquele período de tempo: 
Assim, segundo essa concepção, o que confere legitimidade física a um conceito, e significado ao termo que o designa, é a existência de uma operação experimental claramente especificada por meio da qual se estabeleça a aplicação do conceito e, no caso dos conceitos quantitativos, se lhe possa atribuir um valor numérico preciso. Essa interpretação operacionalista estava naturalmente associada à perspectiva filosófica positivista que dominou o cenário intelectual da primeira metade do século XX. (CHIBENI 2005)

Outro exemplo da teoria de Dain Heer, seria perguntar ao universo: Posso gerar paz e tranquilidade onde permaneço? Tais pretensões complexas diante das infinitas possibilidades, após acrescentar o que ele chama de enunciado aclarador: Certo e Errado; Bom e Mau; POD e POC Curtos, Garotos e Aléns Todos os noves, faz o jogo recomeçar.
A ideia pregada por Heer é de que devemos começar deletando qualquer julgamento de nossa mente, uma vez feito isso, estaremos preparados para uma conexão com o universo e sua complexidade, no sentido de ver o mundo como lugar de infinitas possibilidades, desde que o indivíduo possa compreender que sua maneira de agir também faz parte deste universo.
Ao desenvolver a responsabilidade de não julgamento e se identificar com as questões voltadas para alegria de si e de outros, logo, se produz ondas de energias positivas que contagiam o próprio indivíduo e as pessoas que o cercam. Entre os diversos mantras de seu livro, podemos citar: “Tudo vem a mim com facilidade, alegria e glória”.
Tais mantras, aliados aos exercícios de relaxamentos definidos com “barra de access”  que são mais de 30 pontos do corpo para praticar uma espécie de toque ou massagem, torna o individuo muito mais receptivo ao recomeço de novos hábitos saudáveis, alimentados por frases de efeitos positivos, entre elas: como posso contribuir para melhorar o ambiente em que vivo?
De acordo com a teoria de barra de access, ao acessarmos alguns pontos no entorno das orelhas, deletamos informações desnecessária da mente, então, partimos para outros alvos do corpo, onde poderemos melhorar a recepção com o universo, ou seja, ao tocarmos nestes pontos específicos, temos a sensação de voltarmos no tempo e no espaço primordial de origem das emoções e sentimentos. Os sentidos do corpo tendem a uma nova experimentação daquilo que considera como mágico e maravilhoso.
É destes sentimentos ativados que recomeçam uma nova maneira do indivíduo olhar o mundo em que vive, exigindo do mesmo, a repetição deste ritual de toques nos pontos específicos do corpo, até que seus hábitos e modos de agir se transformem em algo capaz de lhe proporcionar alegria, paz e satisfação em tudo o que pratica em seu cotidiano.
O fato do indivíduo poder apagar aquilo que lhe perturba no final de cada dia, promove-lhe a oportunidade de recomeçar novamente de outra maneira com novas possibilidades infinitas. Para isso a teoria de Dain Heer recomenda a insistência em repetir aquilo que deseja ao universo até ser atendido.
Mas o que torna essa teoria de barra de access interessante é como ela aborda o corpo humano, nela a estrutura corporal possui pontos semelhantes ao teclado de um computador, cujo o teórico Dain Heer, chama de “O reino de nós” onde tudo se resume pela escolha do indivíduo.
Na barra de access, temos a banda de implantes, poder, criatividade, conexões, formas de vida, estrutura, esperança, sonhos, consciência, controle, paz, calma, bondade, gratidão, tempo, espaço e comunicação. Cada um destes pontos pode ser acessado pelo indivíduo que deseja melhorar sua recepção junto a estes valores.
Desse modo, deletar ou implantar valores no corpo humano torna se uma possibilidade a partir do toque em pontos específicos. O que ocorre após estas sessões de tempo em que o indivíduo passa massageando tais coordenadas em sua estrutura corporal, corresponde a uma forma de relaxamento, sendo que os efeitos podem variar muito entre as pessoas que submetem a esta teoria, assim como, da compreensão da mesma.
Para Dain Heer, a consciência faz parte de tudo, cujo indivíduo é unidade em tudo, afirma ele, “você é esse espaço entre as moléculas (e átomos) de seu corpo. A parte do átomo que parece sólida é apenas 0,0001 por cento da totalidade do átomo. O resto é espaço, possibilidade e consciência” É neste continuo que se pode navegar, pois, segundo ele, o espaço entre as moléculas e a consciência do corpo pode ser a mesma daquelas que se encontram em uma cadeira, no ar, paredes, prédio, rua, terra, sistema solar, galáxia e no universo inteiro.
Se a consciência faz parte de tudo, logo, o indivíduo também pertence a este universo, no qual estabelece comunicação numa linguagem que, digamos que seja, por conexão ou comunhão com este universo de opções e possibilidades infinitas e desde que possa incorporar nele tais qualidades para alimentá-lo.
De acordo com Dain Heer, o sujeito apenas tem que estar disposto a receber as energias de outra possibilidade, pois ao assumir sua totalidade, a pessoa está aberta para receber tudo, sem exclusões, com facilidade, alegria e gloria, isto é, ele acolhe o bom, o mau, o bonito e o feio.
Toda pergunta ou pedido feito ao universo, logo será levada em consideração se contém julgamento, pois estes impedem a realização daquilo que foi desejado pelo indivíduo. O que aparece é algo diferente ou contrário, pois significa pontos de vistas ajustados ou avaliados que dificultam as realizações.
Portanto, caso o indivíduo receba sua totalidade, menciona Dain Heer, tudo estará bem, então ele passa a existir junto ao universo. No entanto, se ele se comportar com egoísmo e acreditar que é o melhor ou o mais capacitado e que não precisa de outras pessoas, logo, isso não lhe permite receber muito do universo. E esta postura vai exigir do sujeito muito controle e força empenhada para colocar coisas em existência.
Trata-se da maneira de estar no mundo, podemos nos situarmos no comando via egoísmo, julgamentos e avaliações. Assim, teremos que matar um leão por dia e levantar todas as manhãs pensando numa maneira de sair fora desta tarefa exaustiva. De outro lado, podemos escolher a proposta de Dain Heer, isto é, receber o infinito e sua energia de totalidade, uma sensação de estar vivo, livre da responsabilidade de julgar ou avaliar tudo no seu entorno e então gritar: sou um ser infinito e não estou preso numa bolha.
Dain Heer, afirma que é muito difícil viver em uma realidade relacionada a uma constante negociação: “Se eu lhe der isso, o que obtenho?”  E “Se eu aceitar isso, o que tenho que dar a você?” Há outra alternativa segundo ele, pois, como um ser infinito podemos optar por receber tudo, isto significa, que tem de escolher tal opção e pedir ao universo para destruir todas as barreiras que lhe impedem de fazer esta alternativa.
Todos os problemas que temos estão relacionados aquilo que não estamos dispostos a receber, assegura Dain Heer, já que na realidade, temos que nos lembrar constantemente o que escolher ou receber. De acordo com ele, não somos ensinados sobre o fato de sermos uma unidade em tudo o que existe, logo, nada deve ser julgado.
Dessa maneira, aceitando a totalidade da energia do ser infinito que somos, sentiremos a presença de como é estar vivo segundo Dain Heer. E teremos a bondade, o cuidado, a gentileza e a alegria da incorporação no próprio corpo de uma vontade de receber, saber e ser muito mais, sem nenhuma recusa.
Nesta teoria, o indivíduo não deve buscar uma resposta, apena receber a energia daquilo que desejou e refletir sobre se estaria disposto a ganhar sem preconceber o que teria que granjear para ter o que deseja.  Deve estar preparado para receber sem projeções, expectativas, separações, conclusões, julgamentos, rejeições ou respostas prontas de como aquilo que pediu deve ser ou parecer.
De acordo com Dain Heer, somos seres de unidade, sendo assim, o indivíduo deve se importar com ele e com tudo que se encontra a sua volta, pois essa é a única maneira dele ter alegria na sua realidade, isto é, buscando envolver -se e respeitando as escolhas dos outros. Preocupar se com você mesmo e com os outros é algo maior e caminha lado a lado com a alegria segundo Dain Heer. Sem isso não temos abundância ou conexão com o universo para as novas possibilidades, pois é dessa comunhão com a totalidade que gera a jovialidade para viver.
Neste contexto, o individuo pertence a unidade, na qual existe tudo e nada é julgado.  Quando você se separa, também cessa de existir essa conexão com o universo e as coisas parecem ficar pesadas. O contrário disso, buscar coisas verdadeiras e conectadas com a unidade, podem produzir uma sensações e sentimentos de eventos bons, leves ou prazerosos. 
A problemática do indivíduo seria: como posso viver neste estado de gratidão constante de preocupação consigo mesmo e com os outros? Que espaço ou pessoa que conheço na qual poderei vivenciar isso? Para Dain Heer, somente o universo lhe pode oferecer pistas, portanto, peça a ele, sua função é solicitar que isso aconteça e fazer as perguntas.
Perguntar, escolher e ir adiante, desse modo, muitas vezes alerta Dain Heer, você terá que pedir e mobilizar a coragem para ir caminhando, pode até reduzir seu ritmo, mas não deve parar o sujeito. Neste sentido, o individuo estará criando a vida e o mundo de forma verdadeira, da forma que ele gostaria que fosse e no qual, ele também faz parte. 
Concluindo, somos resultados das probabilidades daquilo que nos constituem, isto, desejos, julgamentos, avaliações e escolhas. A cada escolha, decisão ou forma de agir, recebemos com a configuração integral todo o pacote que acompanha tal opção desejada. Por exemplo: decidimos trabalhar em troca de uma quantidade de dinheiro no final do mês, não importa o valor deste salário pouco ou muito, pois aquilo que acompanha esta tarefa, na maioria das vezes, não é pensada pelo indivíduo, já que ele estava concentrado em sua necessidade de um valor monetário para sua sobrevivência.
Neste sentido, todos os problemas e possíveis reclamações pertencem ao contexto que acompanha este trabalho escolhido pelo indivíduo, que o sujeito só vai dar conta, assim que realmente começa sua função na empresa. E para resolver tais coisas indesejadas, ele começa por rejeitar aquilo que não concorda ou que não tem como modificar.
E para resolver isso, Dain Heer, nos oferece a dica: delete tudo o que lhe perturba e escolha novamente. Faça uma nova demanda de desejo para o universo e todos os dias peça para destruir o que não está bom e recrie novamente, solicitando ao universo.


CHIBENI, S. (Certezas e incertezas sobre as relações de Heisenberg). Rev. Bras. Ensino Fís. vol.27 no.2 São Paulo Apr./June 2005.
HEER, Dain. Sendo você, mudando o mundo. Editora: Katarina Wallentin, USA, 2015.
SILVA. Vinicius Carvalho da O “PRINCÍPIO DE INCERTEZA” DE WERNER HEISENBERG E SUAS INTERPRETAÇÕES ONTOLÓGICA, EPISTEMOLÓGICA, TECNOLÓGICA E
ESTATÍSTICA Vinícius Carvalho da Silva Doutorando e Mestre em Filosofia da Ciência e  Teoria do Conhecimento Scientiarum Historia VII . 2014 . ISSN 2176-1248




[1] O “PRINCÍPIO DE INCERTEZA” DE WERNER HEISENBERG E SUAS
INTERPRETAÇÕES ONTOLÓGICA, EPISTEMOLÓGICA, TECNOLÓGICA E
ESTATÍSTICA Vinícius Carvalho da Silva Doutorando e Mestre em Filosofia da Ciência e  Teoria do Conhecimento Scientiarum Historia VII . 2014 . ISSN 2176-1248


O Elemento Mediador Simbólico na Formação do Indivíduo



Artigo Nº 4-  série "A construção do Indivíduo pelo Símbolo" Teoria de Slavoj Zizek 

Joaquim Luiz Nogueira

O Elemento Mediador Simbólico na Formação do Indivíduo


(...) habitamos a ordem simbólica apenas na medida em que cada presença surge contra o pano de fundo de sua possível ausência[1]

Existe certa autorização sustentadora no indivíduo que funciona em tempo real, isto é, como já nos referimos anteriormente no capítulo 3, ela é uma espécie de “F5” muito usado nos programas de computadores para fazer atualizações. Trata-se de um tipo de sintonia com o ambiente ou contexto, cujas funções simultâneas são: construções e intervenções no sujeito.
Esta atuação se mostra a partir do relato da pessoa, principalmente nos argumentos expressados, que tendem para uma defesa heroica ou imaginária do fato ocorrido em tempo real. A interpretação do caso se processa de forma um pouco fantasmagórica, numa tentativa de se proteger da realidade e lutar contra o elemento gerador. “Á ordem estrutural sincrônica é um tipo de formador de defesa contra seu Acontecimento fundador que só pode ser discernido na forma de uma narrativa mítica espectral” (ZIZEK, 2015, p.97).  
A explanação do acontecido que ocorre no sentido da inventividade do indivíduo se movimenta em oposição à tentativa de atualização ou construção da pessoa pela projeção espectral. “(...) a própria narrativa desse Acontecimento não é nada além de uma fantasia para resolver o antagonismo/inconsistência debilitante da Ordem sincrônica /estruturadora” (ZIZEK, 2015, p.97).  
O mecanismo que ampara o sujeito em sua renovação, e que, para se conservar de forma atuante, ele não deve estar no mesmo grau, ou seja, deve estar fora do sujeito, pois, “a irreconhecível história fantasmática, (espectral), que sustenta efetivamente a tradição simbólica explicita, mas que, para ser operante, tem de permanecer forcluída” ZIZEK, 2015, p.73-74).
E neste sentido, o fato que provoca angustia no indivíduo, também não oferece condição para acomodar definitivamente a inovação trazida pela narração fantasmagórica, mesmo que tenha tido progresso, não se pode registrar a permanência naquele lugar, cuja projeção foi a responsável pela mediação de acordo com Zizek: “a história espectral fantasmática de um evento traumático que “continua a não ter lugar”, que não pode ser inscrito no próprio espaço simbólico criado por sua intervenção” (ZIZEK, 2015, p.74).
Mesmo que o relato fantasmagórico não consiga se efetivar no indivíduo, ele continua a equilibrar o sujeito de forma simbólica, isto é, sua aparência gera imagens e ideias que propiciam avanços: “sua presença espectral sustenta a tradição simbólica explicita” (ZIZEK, 2015 p.74).
O elemento mediador do indivíduo que Slavoj Zizek chama de espectro, no limite que não permanece integrado ao sujeito, ele se apresenta como uma visão eterna, que mesmo não agregado à pessoa, continua a intervir na realidade “na medida em que permanece não integrado ou excluído, continua a assombrar a história “real” como sua Outra Cena espectral” (ZIZEK, 2015 p. 74).  
Na medida em que aquilo que possui a capacidade da imortalidade, isto é, uma ficção que também argumenta sobre a realidade e pode modificar os resultados, cujos elementos desencadeadores fantasmagóricos, não possuem uma explicação que possa ser dada como resultado ou consequências de atos anteriores, segundo afirma Zizek mencionando Kant e Schelling:



Com respeito a noção de tempo como real, isso significa que existe um ato autêntico entre tempo e eternidade. Por um lado, um ato é como afirmaram  Kant e Schelling, o ponto em que a “eternidade intervém no tempo”, em que o encadeamento da sucessão causal temporal é interrompido, em que “alguma coisa surge-intervém do nada”, em que algo acontece e nada pode ser explicado como resultado ou consequência da cadeia antecedente (ZIZEK, 2015, p.98)

Neste caso, a postura, conduta ou atitude de um indivíduo se traduz como sinal de uma intervenção, cuja origem, também pode ser interpretada como uma abertura ou ponte, que permite a mediação de algo que é permanente: “Em suma o ato propriamente dito é o paradoxo do gesto atemporal/”eterno” de superar a eternidade, abrindo a dimensão da temporalidade/historicidade”. (ZIZEK, 2015 p.98).
Para entendermos a noção de tempo no ser humano, temos que ver o seu registro como uma espécie de represamento ou fotografia da retina, armazenada via memória. Estas se transformam em cenários ou perspectivas que se fixam como pontos objetivos ou lembranças vinculadas a seus contextos geradores.
E esses pequenos recortes que chamamos de cenários não possuem mais uma ligação direta com sua origem permanente, cuja atuação deste elemento externo instaurador e sua designação, podem ser denominadas, segundo Ernesto Laclau, como antagonismo, isto é, adversidade. Para Judth Butler, trata-se de um apego apaixonado:

Para entender esse ponto crucial, precisamos ter em mente que não existe “tempo como tal”, existem apenas horizontes concretos de temporalidade/historicidade, e cada horizonte é fundamentado em um ato primordial de forclusão, de “repressão” de seu próprio gesto fundador. Segundo os termos de Ernesto Laclau, o antagonismo é esse ponto da “eternidade” da constelação social definido por seu antagonismo, o ponto de referência que gera o processo histórico (...) Nos termos de Judith Butler, o “apego apaixonado”, talvez seja um candidato a essa “eternidade”. (ZIZEK, 2015, p.98).

Para Slavoj Zizek, trata-se de uma “constelação libidinal primordialmente reprimida/renegada que não é simplesmente histórico – temporal, pois sua própria regressão gera e sustenta os múltiplos modos de historização” (ZIZEK, 2015, p.98). Esta ideia de construção do indivíduo pela libido já foi  amplamente discutida com Jung no capítulo anterior, no momento, vamos apenas refletir sobre as denominações de antagonismo e apego apaixonado como elementos mediadores na formação do sujeito.  
Costumamos dizer que o cheiro de um café ao ser passado pelo coador desperta nas pessoas a irresistível vontade de tomar a bebida, que uma vez experimentada, pode ter a sensação de que a fragrância sentida anteriormente era melhor do que o líquido ingerido. Digamos que o mesmo acontece com a véspera de um acontecimento festivo, quando os sentimentos de expectativa são muito mais vigorantes, quando comparados com aqueles que ocorrem no evento.
Percebemos que há certo antagonismo entre o fato real e a expectativa anterior nos dois casos acima, sendo que, esta última, a situação de espera, conserva em si uma visão integradora, isto é, ela é carregada de possibilidades. Enquanto que a materialidade em si do café ou do evento, congrega a adversidade de elementos divergentes, portanto, a oportunidade da bebida e do acontecimento festivo se repetir está na evocação do aroma e na expectação que antecede cada evento importante para o indivíduo.
Neste aspecto, podemos dizer que certos aromas ou situações de espera, geram arrebatamentos exaltados que podem desencadear no indivíduo uma variedade de sentimentos, entre eles, carinho, afeto, amor, amizade, benevolência, simpatia e ternura. De outro lado, também provocam ciúme, avareza, desejo, fixação; etc.
E estes elementos acima são responsáveis pela mediação na formação do sujeito, mesmo que não integrem o corpo do indivíduo, eles participam por meio de intervenções, arbitrando decisões na medida em que surgem de forma planejada ou inesperada para a pessoa.
No entanto, o resultado do encontro entre a realidade, isto é, o fato concreto em si e a parte invisível, imaginada, fantasmática, sendo que, esta última, termina por direcionar as ações do indivíduo segundo Zizek: “A lição disso tudo é que, na oposição entre fantasia e realidade, o Real está do lado da fantasia” (ZIZEK, 2015, p.76).
O elemento mediador e ausente no indivíduo se conserva fora do contexto de tempo, mas se antecipa ao se representar como fator motivador de um fato ou evento. Ele se torna a fonte originadora que apoia e facilita a abertura para diversas tentativas do sujeito na busca da realização de objetivos frustrados anteriormente:

A “eternidade” não é atemporal no simples sentido de persistir para além do tempo, ela é, antes, o nome do Acontecimento ou do Corte que sustenta, que abre a dimensão da temporalidade como a série ou sucessão de tentativas fracassadas de aprendê-la (ZIZEK, 2015, p. 99).

O Psicanalista Slavoj Zizek chama os diversos insucessos de um indivíduo de traumas, experiências emocionais desagradáveis, que para ele, funciona também como algo eterno, já que o sujeito não consegue deter isto só no passado, pois o tempo da pessoa começa a girar em torno daquela comoção, na qual, a partir de abundantes formas, busca se conectar ao acontecido:

O nome que a psicanálise dá a esse Acontecimento/Corte é 0bviamente, trauma. O trauma é “eterno”, nunca pode ser propriamente temporalizado ou historicizado, é o ponto da “eternidade” em volta do qual o tempo circula – ou seja, é um Acontecimento accessível no tempo somente por meio de seus múltiplos traços. (ZIZEK, 2015, p.100).
  
É a incapacidade da mente do indivíduo em compreender o trauma que o sustenta. Se ele conseguir neutralizar este impacto, livrar-se desta perturbação, o resultado seria uma vivência do momento infinito, sem preocupação com o tempo:
Não existe tempo sem eternidade; a temporalidade é sustentada por nossa incapacidade de apreender/simbolizar/historicizar o trauma “eterno”. Se o trauma fosse temporalizado/historicizado de maneira bem sucedida, a própria dimensão do tempo implodiria/colapsaria em um Agora eterno e atemporal. (ZIZEK, 2015, p.100).

A historicidade de um indivíduo é sustentada porque ele tende a ser orientando pelos seus pontos traumáticos. O sujeito não consegue se romper deste círculo, assim, o momento perene “a Eternidade (...) é excluída para que a realidade histórica possa manter sua consistência” (ZIZEK, 2015, p.100).
Do ponto de vista do cristianismo, o indivíduo é orientado para apontar o sentimento do amor, que também se trata de um elemento passageiro e limitado pela morte do corpo, porém, provoca um fascínio e este evoca algo que vai muito além de qualquer materialidade. “No amor, nós escolhemos um objeto temporal finito que “significa mais do que qualquer outra coisa” e nos concentramos nele” (ZIZEK, 2015, p.100).
A escolha do indivíduo pela orientação advinda do eterno mereceu atenção de Immanuel Kant, citado por Zizek, ele enfatizou a qualidade perene da pessoa, mesmo antes da realidade terrena, ou seja, aquela que determina previamente via destinação, a sina do sujeito.

O último Kant articulou a noção do ato nominal da escolha por meio do qual um indivíduo escolhe esse caráter eterno e, por isso, antes de sua existência temporal, delineia de antemão os contornos de seu destino na terra. (ZIZEK, 2015, p.100). 

Desse modo, a libertação do indivíduo tem um grande progresso com o cristianismo, pois, novamente ocorre a transformação legítima e o sujeito pode se reinventar (arrepender ou perdoar) e outra vez sem perder o foco na eternidade.


Sem o ato divino da Graça, nosso destino permaneceria imóvel, para sempre fixado por esse eterno ato de escolha; a “boa nova” do cristianismo, no entanto, é que, em uma Conversão genuína, o sujeito pode “recriar-se”, ou seja, repetir esse ato e, assim, mudar e (desfazer os efeitos da) própria eternidade. (ZIZEK, 2015, p.100).

Outra inovação cristã está na transformação da via do amor, pois com este sentimento que existe no tempo transitório humano, temos uma ampliação da projeção entre o indivíduo e o seu semelhante, cujo altruísmo do sujeito pode desencadear uma espécie de transferência no sentido do objeto venerado, enquanto manter sua união com o mesmo. “No amor, nós escolhemos um objeto temporal finito que “significa mais do que qualquer outra coisa” e nos concentramos nele”. (ZIZEK, 2015, p.100).
Do ponto de vista oposto, a pessoa também pode se agarrar ao fato em que se acredita como original, por exemplo, seguir sua destinação, missão ou desígnio. Neste sentido, pode se suportar sofrimento e perseverar, pois a energia é vigorada com a presença do acontecimento primordial. Slavoj Zizek cita o povo judeu como amostra de uma conduta não simbolizada:

O paradoxo do Judaísmo é que ele se mantém fiel ao Acontecimento fundador violento precisamente por não o confessar nem o simbolizar: esse status “reprimido” do Acontecimento é o que dá ao judaísmo sua vitalidade ímpar; foi o que permitiu que os judeus persistissem e sobrevivessem durante milhares de anos sem terra ou tradição institucional comum. (ZIZEK, 2015, p.101).

Esta saída do indivíduo, no qual ele não permite revelar seu sentimento, ou seja, desde que nasce, incorpora uma verdade eterna e a segue fielmente, porém, esta se contrasta com a ação de se simbolizar. Nesta segunda opção, o sujeito confesso de suas fragilidades ou erro, passa ter a opção de escolha para continuar rumo ao seu objetivo.


Neste sentido, o indivíduo pode confessar seus erros e começar novamente de forma diferente sob a luz de outras possibilidades, num primeiro momento, parece como solução imediata, porém, o psicanalista Slavoj Zizek nos diz que o sujeito continua permanentemente aterrorizado por uma espécie de resíduo, que sobrevive ao ato revelador da pessoa.

(....) devemos chegar a conclusão inevitável que a psicanálise, longe de ser um modo confessional de discurso, implica a aceitação e a admissão de que todas as formações são para sempre assombradas por algum “resto indivisível”, uma “sobra” espectral traumática que resiste à “confissão”, ou seja, à integração no universo simbólico. (ZIZEK, 2015, p.101).

O elemento que resiste no indivíduo, mesmo depois que o sujeito se arrepende ou confessa seus erros, e que, segundo Freud se chama trauma, isto é, um fantasma que se torna o responsável pela manifestação que caracteriza a pessoa. É com esse ingrediente invisível, ausente, que Zizek afirma o complemento do ser humano.

Obviamente, o nome freudiano para esse resto “não-morto” é, repetimos, trauma – é a referência implícita a algum núcleo traumático que persiste como resto “não-morto” obsceno/monstruoso, que mantém “vivo” um universo discursivo – isto é, não existe vida sem o suplemento da persistência espectral obscena - não – morta do “morto vivo”. (ZIZEK, 2015, p.101).

Portanto, aqui vemos que o elemento mediador no indivíduo, sendo ausente, não pode ser controlado pela vontade do sujeito, pois se encontra em outra perspectiva, com outra visão e esta não permite a ampla liberdade do sujeito: “A aceitação do fato de que nossa vida envolve um núcleo traumático por trás da redenção, que existe uma dimensão de nosso ser que resiste para sempre à redenção e à libertação” (ZIZEK, 2015, p.101). 


O ser humano como alguma coisa que se divide entre dois opostos, de um lado, é destituído, inexistente ou vazio. Já seu oposto pode ser uma completude preenchida por sua genuinidade, que se satisfaz via representações e imagens. Para ilustrar esta ideia, Zizek cita Hegel, pois ele compara o homem à escuridão da noite, isto é, um nada que contém um tudo:  

O ser humano é esta noite, este nada vazio, que contém tudo em sua simplicidade - uma riqueza infindável de muitas representações, imagens, das quais nenhuma lhe pertence ou não estão presentes. (HEGEL in ZIZEK, 2015, p.104).

Ao nos sentirmos como nada, uma espécie de pessimismo e sentimento de inutilidade se mostra como horizonte. É neste espaço entre o vazio e a negatividade, que a inventividade humana trabalha como mediadora, isto é, ela busca imagens, lembranças, desejos, sonhos e os apresentam de forma brilhante ou podemos dizer também, em aspecto simbólico, é algo capaz de insculpir no indivíduo novas ações, mesmo que impossíveis de serem realizadas.
Em uma aparência sublime, o conteúdo imaginário positivo é um substituto do Além “impossível” (...) Em suma, no momento em que entramos na dimensão da aparência simbólica, o conteúdo imaginário é aprisionado/inscrito numa dialética entre o vazio e a negatividade (ZIZEK, 2015, p.106).

A qualificação da formação do indivíduo via elementos mediadores, tais como: traumas, imagens positivas, sublimes, simbólicas entre outras, dependem das trajetórias em que o sujeito escolhe para prosseguir. Estas opções agarradas pelo sujeito se apresentaram acompanhadas de diversas outras possibilidades de percursos que são dificultadas ou negadas a partir da concretização de uma dada preferência ou decisão.



[1] Slavoj Zizek, 2015, p.50.

Os Símbolos Como Espelhos Orientadores de Quem Realmente Somos

Este é o Artigo Nº3 da série "A construção do indivíduo pelo símbolo" um ensaio sobre a compreensão da visão humana e suas ações ou propósitos. Aqui o tema é visto segundo a teoria de Carl Jung

                                                                                               Joaquim Luiz Nogueira


Os Símbolos Como Espelhos Orientadores de Quem Realmente Somos

O homem se compensa através da fantasia[1]




O dispositivo humano responsável por configurar iniciativas e decisões, aquele que nos aponta direções, tem como alicerce uma estrutura invisível, cujos comandos ocorrem por sensações de medo, prazer, preocupações, sonhos e fantasias. Estas fontes que alimentam o corpo humano e que segundo Jung, preexistente ao corpo e seus órgãos, também significa, que independe do indivíduo para atuar.

A base instintivo–arcaica de nosso espírito é um fato objetivo, preexistente, que não depende de experiência pessoal nem de qualquer arbitrariedade subjetiva pessoal, tampouco quanto a estrutura hereditária e a disposição funcional do cérebro ou de qualquer órgão” (JUNG, 1986, p.25).

Tendo esta base estrutural fora do indivíduo, logo o corpo se torna um órgão receptor, cuja parte do comando parece ser algo externo a ele, o que pode explicar o fato do indivíduo ver se obrigado a fazer escolhas a cada instante de sua trajetória. Tais decisões são carregadas de potencialidades, sendo a maioria delas simbólicas, expressas como opções entre o Bem versos o Mal, ou melhor e pior. “Tudo o que é psíquico tem um sentido inferior e um sentido superior (...) e com isso tocamos o enigma do significado simbólico de tudo o que é psíquico” (JUNG, 1986, p.43). 
Estas sensações que chegam ao indivíduo, muitos classificam como instinto ou como derivações de experiências pessoais, Jung chamou de arquétipo, isto é, uma espécie de estampagem que o sujeito carrega através do sistema nervoso, isto é, uma capacidade para fazer escolhas por ele. “De fato, podemos constatar psicologicamente que um arquétipo é capaz de dominar o eu e, mesmo obrigá-lo a agir em seu sentido” (JUNG, 1986, p.57). 
O fato destas sensações serem sentidas a partir de evocações mentais, que também podem ocorrer por meio de situações especificas, por exemplo onde está presente o desespero, isto é, aquelas não planejadas pelo indivíduo, é esclarecido por Jung da seguinte maneira: “Trata-se, porém da energia inerente ao arquétipo ao inconsciente, como tal não está à nossa disposição” (JUNG, 1986, p.75).
E se o indivíduo pode contar com uma ajuda que ele desconhece, mas que lhe oferece socorro quando necessita, logo, passa a acreditar que não está desamparado neste mundo e até ir, além disso, ao incorporar aquilo em que confia ser. “Trazer um Deus dentro de si significa muito: é a garantia de felicidade, de poder e até de onipotência, uma vez que estes são atributos divinos” (JUNG, 1986, p.75).
Na história humana, como forma de elucidar estas incorporações, pode se observar os indivíduos que se apresentaram aos seus súditos como representantes de divindades, enquanto outros, disseram ser o próprio Deus aos seus comandados.

As ideias de deificação são antiguíssimas. Na crença antiga localizavam-se no período após a morte, mas o mistério já as contém neste mundo. Temos uma bela descrição num texto egípcio; é o canto triunfal da alma em ascensão: Sou o deus Atum, que só eu fui. Sou o deus Rê, em seu primeiro esplendor. Sou o grande deus, que se criou a si mesmo (JUNG, 1986, p.76).


O processo que transforma o indivíduo em um ser mais forte e confiante contrasta com a realidade na qual ele se reconhece fraco e inseguro. Para enfrentar os obstáculos, o sujeito incorpora qualidades necessárias, equivalentes, próximas de heróis ou deuses.

A deificação necessariamente tem por consequência um aumento da importância e do poder individual. Isto de início parece ser o objetivo: uma afirmação do indivíduo face a sua enorme fraqueza e insegurança na vida pessoal (JUNG, 1986, p.78).

Outro lado desta metamorfose ocorre quando o sujeito inicia sua segunda metade da vida, nesta fase, tende a se fechar em si mesmo, com isso, inverte a polaridade, as imagens que foram responsáveis pela maior parte de sua trajetória, aquelas que indicavam rumos e horizontes a partir de contextos externos, nesta etapa, a pessoa se recolhe com essas lembranças, numa espécie de paraíso da infância. 


Mas o reforço da personalidade é apenas uma consequência externa da deificação; muito mais significativos são os processos afetivos profundos. Quem introverte a libido, quem a desvia do objeto externo, sofre inicialmente as consequências inevitáveis da introversão: a libido, voltada para dentro do indivíduo, retorna ao passado individual e, do mundo das recordações, traz à tona aquelas imagens antigas que revivem os tempos em que o mundo ainda era cor de rosa. São, em primeiro lugar, as recordações da infância (JUNG, 1986, p.78).

As emoções da infância, uma vez integradas pelo indivíduo, se transformam em símbolo de força, sempre que esse ponto for iluminado pela consciência, dali são irradiadas inspiração e coragem. Neste aspecto, alguns valores desta fase lhe foram apresentados por figuras de heroísmo, cujo sujeito se espelhava por meio de imitações. Tais sentimentos que ampliavam a infância por meio de uma imaginação sem limites de inocência, carregavam também a fonte que se revelaria toda a sua existência, esclarecida por Jung da seguinte maneira: “Ainda não se deu conta que o homem, na figura divina, venera a energia do arquétipo. Este simbolismo aparece de modo extraordinariamente plástico” (JUNG, 1986, p.79).
As lembranças ou emoções da infância, ambas são apresentadas ao indivíduo como representações, espécies de ícones que conectam as necessidades das pessoas á uma força que transcende para além do sujeito. Uma ponte que se torna responsável pela ligação com o que de fato somos, ou seja, o lugar onde desejamos permanecer, cujo combustível é a autêntica emoção.

Mas só como um símbolo: ela reveste o arquétipo coma figura dos pais assim como explica a energia do mesmo com as ideias de fogo, luz e calor, fecundidade, força criadora, etc.(...). Aquilo que é visto como luz interior, como Sol do além, é o psíquico emocional (JUNG, 1986, p.79-80).


A comoção que nos prende apenas por alguns instantes por aquilo que desejamos, continua de forma incessante sua busca cada vez que o fio emocional é rompido. As maneiras de gerar as figurações entre o que temos e aquilo que nos fascina são infinitas, no entanto, pode ser citado como exemplos, entre tantas outras, as linguagens metafóricas, sons, sabores e imagens. observe este movimento na descrição de Jung: “A simbólica da libido não estaciona (...) mas dispõe de muitos outros meios de expressão” (JUNG, 1986, p.83)
Antes de prosseguirmos, vamos esclarecer um pouco sobre o conceito de libido, termo escolhido por Jung para se referir à energia psíquica, algo bastante abstrato até nos dias atuais, porém, nos estudos dele, o mesmo fez questão de explicar porque em alguns momentos, hipoteticamente preferiu chamar a energia vital ou bioenergia de libido:

Propus que a energia vital, hipoteticamente admitida, fosse chamada libido, tendo em vista o emprego que tencionamos fazer dela em psicologia, diferenciando-a, assim de um conceito de energia universal e conservando -lhe, por consequência, o direito especial de formar os seus próprios conceitos. Fazendo isto, não tenho a menor intenção de adiantar-me aos que trabalham no campo da bioenergética, mas tão – somente dizer-lhe com toda franqueza que empreguei o termo “libido” em vista do uso que dele faremos em nosso estudo. Para seu uso, esses estudiosos poderão propor, se o quiserem, os termos “bioenergia” ou “energia vital” (JUNG,2002, p.26)

Voltamos à infinidade de imagens arquivadas no psíquico humano, cujo acesso instantâneo pela consciência se dá por meio de uma espécie de leitura simbólica, isto é, uma metáfora que pode levar a uma diversidade de possíveis interpretações segundo as necessidades de cada indivíduo.
Esta multiplicidade de formas desencadeadas via imaginação do sujeito, levou ao longo da história das civilizações antigas a várias tentativas de padronizações das imagens mentais que seriam válidas ou verdadeiras em relação às inúmeras outras que formavam a gama simbólica, principalmente em termos religiosos, no caso do Antigo Egito:
Todos os símbolos, infinitamente diferentes, enquanto imagens da libido podem ser reduzidos a uma raiz muito simples: justamente à libido e as suas propriedades. Esta redução e simplificação psicológica corresponde ao esforço histórico das civilizações de unir e simplificar sincreticamente o infinito número de deuses. Já encontramos esta tentativa no Egito antigo, onde o incrível politeísmo dos diferentes demônios locais finalmente tornou necessária uma simplificação (JUNG, 1986, p.86).

A grandeza do astro celeste sobre a terra e as qualidades de sua luz juntamente com a criação da vida vegetal e animal, logo, por via analógica, se transforma na maior das divindades, aquela com a capacidade para unificar todas as demais sob seu poder visível, a coroa solar. “O deus se transforma no Sol, e com isso encontra uma expressão natural que está além da fragmentação moral do divino pai celestial e no diabo” (JUNG, 1986, p.109).
Neste aspecto, o indivíduo era movido por uma força impulsionadora, que no caso da Civilização Egípcia era o sol. Este astro celeste, analogicamente, assim como os humanos, produzia coisas úteis e nocivas, boas e más.
Também brilha igualmente para justos e injustos e faz crescer tanto seres úteis quanto nefastos. Por isso o sol é adequado para representar o deus visível deste mundo, a força propulsora de nossa própria alma a que chamamos de libido e cuja essência é produzir coisas úteis e nocivas, boas e más (JUNG,1986, p.110).

Desse modo, aquilo que nos empurra para frente, dá a partida, isto é, elemento disparador do indivíduo, que no caso físico, seria o coração. No lado psíquico, corresponde a algo que está ausente do sujeito e que segundo Jung pode ser: “fatos determinados pelos instintos ou pelos arquétipos e que não podem ser compreendidos mediante o princípio da causalidade” (JUNG, 2002, p.9).


No conceito de energia psíquica, o indivíduo seria construído via consequências de ações realizadas a partir de sua origem, transformações que estamparam nele sinais, cujos traços, manifestam de forma progressiva, numa tentativa de compensar o desequilíbrio inicial. Esse movimento é direcionado e irreversível no sujeito segundo Jung:

A consideração energética é essencialmente de caráter finalista, e entende os fenômenos, partindo do efeito para a causa, no sentido de que na raiz das mutações ocorridas nos fenômenos há uma energia que se mantém constante, produzindo, entropicamente, um estado de equilíbrio geral no meio dessas mutações. O desenrolar do processo energético possui uma direção (um objetivo) definida, obedecendo invariavelmente (irreversivelmente) à diferença de potencial. (JUNG,2002, p.13-14).

De acordo com Jung, o ponto de vista energético do indivíduo não tem nada a ver com qualidade, pois isso implica produto e substâncias, “mas unicamente com suas relações quantitativas de movimento” (JUNG, 2002, p.16). Desse modo, a medida numérica de realizações ou a persistência do sujeito em relação ao que deseja, indicam traços energéticos reparadores, advindos de sua origem.
Uma ação do indivíduo, na qual, o mesmo possa incorporar certa representação desejada, esta, passa também, a impulsionar ou determinar os rumos de sua trajetória. Tal força, segundo Jung, aparece também no campo religioso. “O arquétipo, como mostra a história dos fenômenos religiosos, tem efeito luminoso, isto é, o sujeito é impelido por ele como pelo instinto, e este pode ser limitado e até subjugado por esta força” (JUNG, 1986, p.145).
O sujeito que consegue direcionar sua energia psíquica para aquilo que ele realmente deseja e venera, torna-se alegre e dinâmica sua própria existência, pois para Jung, “Este mundo é vazio somente para aquele que não sabe dirigir sua libido para coisas e pessoas e torna-las vivas e belas para si” (JUNG, 1986, p.158).

Do ponto de vista biológico o indivíduo como ser único e isolado é algo fraco, portanto, necessita dos outros para sua existência. De outro lado, para que seja reconhecido como protagonista de alguma coisa, ele deve construir sua originalidade a partir de uma seleção de ações culturais e valores simbólicos, cuja prática dos mesmos lhes sirva como espelho a si e aos demais.

O homem como indivíduo é um fenômeno suspeito, cujo direito a existência poderia ser combatido sob o ponto de vista biológico, segundo o qual o indivíduo só tem sentido como ser coletivo, como elemento integrante da massa. Mas o aspecto cultural lhe confere um significado que o separa da massa e que no decorrer dos milênios levou à formação da personalidade, passo a passo com a qual se desenvolveu o culto ao herói. (JUNG, 1986, p.162).

É neste aspecto que o sujeito pode ver a imagem maravilhosa, o sonho, ou seja, aquilo que ele mesmo construiu via sua imaginação. E diante de seus gestos e palavras como participante do processo, ele representa os valores que desejaria na sua realidade, e esses, passam a refletir nele como revelações, ideais, potência e contornos, que de algum modo, estruturaram o indivíduo.

Sob a forma humana visível não se procura o homem, mas o super-homem, o herói ou o deus, justamente o ser semelhante ao homem, que exprime aquelas ideias, formas e forças que comovem e moldam a alma humana. (JUNG, 1986, p.163).

Trata-se de uma busca de ideais sonhados pelo indivíduo, cuja realização é algo incomum, próxima do mito ou desejo de se aproximar de uma estrela, porém, como representação, essa vontade se fixa no horizonte psíquico e reveste as ações, ora como lembranças, ora como ficções, espécie de farol que ilumina a consciência para uma busca ambiciosa e destemida, rumo a uma visão extraordinária e heroica.

Por isso os heróis sempre são semelhantes ao Sol. Por isso nos julgamos autorizados a concluir enfim que o mito do herói é um mito solar. Quer me parecer, contudo que ele é antes a auto-representação da nostalgia do inconsciente em sua busca insaciada e raramente saciável pela luz da consciência (JUNG, 1986, p.180).

Neste sentido, o indivíduo se assemelha a uma projeção, cuja fonte, mesmo distante dele, é capaz de apontar as direções possíveis via imagens psíquicas, isto é, representações simbólicas que alimentam e desencadeiam movimentos no corpo. Para Jung, “a única realidade é a libido, cuja natureza se revela através de nossas realizações (...) é a força criadora inconsciente que se oculta em imagens” (JUNG, 1986, p.212).
Para ilustrar a ideia de como a evocação por pensamento pode direcionar uma ação, Jung menciona um trecho bíblico de João 3:6 “O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito” No entanto, como psicanalista, ele traduz dizendo que se o indivíduo pensar de modo carnal, serás carne, mas se pensar simbolicamente será espírito “Na exortação de Jesus a Nicodemos encontramos esta imposição: não penses de modo carnal, pois então serás carne, mas pensa simbolicamente e então será espírito”! (JUNG, 1986, p.215).
 O pensamento simbólico para Jung é uma forma de elevação do sujeito, algo que o mesmo não conseguiria se ficasse preso ao concreto. Já a fascinação evocada pela forma metafórica promoveria a pessoa para pensar e agir de forma diferente:

É evidente quanto esta atração pele simbólico educa e promove o homem. Nicodemos permaneceria aferrado ao quotidiano grosseiro se não conseguisse elevar-se simbolicamente acima de seu concretismo. (JUNG, 1986, p.215).




Assim, podemos afirmar que as ações dos indivíduos possuem relações com aquilo que eles pensam. No caso de Nicodemos, segundo Jung, o que dificultava suas ações era o fato dele pensar grosseiramente, ou seja, de modo mal-educado e para que ocorresse a mudança, Jesus teria que o fazer pensar simbolicamente.
Quando se pensa numa linha próxima da prática cotidiana, a pessoa tende mais a resistir à mudança e não acredita que pode fazer de forma diferente. Isso gera um sentimento de que está preso para sempre numa missão tediosa.
No entanto, se o indivíduo conseguir pensar de forma simbólica, esta liberta o mesmo desta cadeia viciosa, cuja atração empírica não permite a saída psíquica e imaterial, capaz de criar novos horizontes, cujas forças sugestivas podem estruturar a mente de maneira diferente. Vejamos isso nas palavras de Jung:

A verdade empírica não liberta o homem de suas amarras sensuais, pois lhe mostra apenas que sempre foi assim e também não poderia ser diferente. Mas a verdade simbólica que coloca água no lugar da mãe, espirito ou fogo no lugar do pai, oferece uma nova saída à libido presa na assim chamada tendência incestuosa, liberta e a conduz para uma forma espiritual. (JUNG, 1986, p.216).

A passagem ou portal que liga o indivíduo a outra dimensão via símbolo se abre para pessoa a partir do momento em que ela apreende, isto é, o sujeito apodera-se dos valores no qual acredita. Para Jung, a fé é um carisma para aquele que a possui, porém, não é um caminho para aqueles que necessitam primeiro entenderem para depois acreditar: “Embora se acredite em símbolos natural e originalmente, também é possível entende-los, o que é o único caminho viável para aqueles que não têm o carisma da fé” (JUNG, 1986, p.220).

Estamos falando de um mecanismo capaz de fazer a ligação entre aquilo que o indivíduo presencia com a coisa almejada por ele como ideal para cada situação vivenciada. Este recurso é o símbolo, um elemento de personificação, cuja força de atuação ocorre de forma psicológica, sendo responsável pelas conquistas pessoais.

O símbolo, observado sob o ponto de vista do realismo, não é uma verdade concreta, mas psicologicamente ele é verdadeiro, pois foi e continua sendo a ponte para as maiores conquistas da humanidade (JUNG, 1986, p.220)

Tais categorias de sugestões ditadas ao indivíduo por meio de símbolos são totalmente dependentes da experiência pessoal e única de cada sujeito. É a experiência que faz a conexão entre a realidade e a ação prática, espécie de força movida e estruturada por símbolos, cuja função amplificadora, transforma e conduz a pessoa de uma dimensão insignificante para grandezas idealizadas em cada momento de sua trajetória.

Os arquétipos são elementos estruturais numinosos da psique e possuem certa autonomia e energia especifica, graças à qual podem atrair os conteúdos do consciente a eles adequado. Os símbolos funcionam como transformadores, conduzindo a libido de uma forma “inferior” para uma forma superior. (JUNG, 1986, p.221)

É muito comum ouvirmos de uma pessoa após alguma decisão ou ação que tenha sido muito significante para determinada situação: tive uma ideia ou me veio uma sugestão naquele instante. Para Jung, “O símbolo age de modo sugestivo, convincente, e ao mesmo tempo exprime o conteúdo da convicção. Ele age de modo convincente graças ao número, que é a energia especifica própria do arquétipo” (JUNG, 1986, p.221).
Tais recomendações que surgem de forma espontânea ao indivíduo, porém, persuasiva o bastante para que ele obedeça, é algo, que conscientemente, nem o próprio sujeito reconhece como fruto de sua autoria, mas fala como se tais sugestões tivessem sido originadas do nada.
Como essas opiniões chegam ao indivíduo com forte convicção, semelhante aquilo que chamamos de fé, logo, podemos investigar sua origem advinda de elementos que estão fora do sujeito, tais como força da herança cultural, cujo contexto vivenciado pela pessoa lhe impõe obrigações na qual, ela não tem como fugir da autoridade da tradição.

A fé “legitima” sempre remonta à vivência.  Mas existe ainda uma fé baseada exclusivamente na autoridade da tradição. Pode se considerar também esta fé como “legitima”, pois também a força da tradição representa uma vivência cujo valor para continuidade da cultura está fora de dúvida. (JUNG, 1986, p.221)

De outro lado, esta autoridade de uma suposta tradição parece que não se sustenta por muito tempo, já que o ser humano, segundo Jung, pode ser possuído pela inércia, espécie de preguiça mental, na qual joga o mesmo de volta para infantilidade. Desse modo, os valores da tradição pode até continuar, porém, não fazem mais sentido nenhum para o indivíduo, que se lança numa busca constante de outros sentidos para sua vida.

Mas nesta forma de fé existe o perigo do simples hábito, da preguiça mental, da inércia cômoda e estéril, que ameaça uma parada e um consequente retrocesso da cultura. Esta dependência, que se tornou mecânica, anda passo a passo com uma regressão psíquica para infantilidade. Os conteúdos tradicionais pouco a pouco perdem seu verdadeiro sentido e só são mantidos formalmente, sem que esta forma de fé ainda exerça qualquer influência sobre a vida (JUNG, 1986, p.221)

Esta nova procura do indivíduo não pode ser apenas fruto de sua racionalidade, para Jung, “O homem não pode transformar – se em alguma coisa exclusivamente pelo raciocínio, mas apenas naquilo que já está em potencial dentro dele” (JUNG, 1986, p.225-226).

Novamente, temos aqui a sensação de que a construção do indivíduo está ausente dele, pois, de acordo com certas necessidades, ocorrem transformações em níveis de arquétipos inconscientes, que segundo Jung, pode ser mudanças que aos poucos, o consciente do indivíduo começa a interpretar essas tais orientações e colocá-las em pratica na vida.

Se uma tal transformação se torna necessária, a adaptação mantida até agora e que pouco a pouco se desfaz é compensada inconscientemente pelo arquétipo de uma outra forma de adaptação. Se o consciente conseguir interpretar o arquétipo constelado quanto ao sentido e de maneira apropriada, ocorre uma transformação compatível com a vida (JUNG, 1986, p.226)

Outra explicação, mais fácil de compreensão destas sugestões que impulsionam o indivíduo vem do conceito de magia, que se trata da criação de eventos, cuja função, seja produzir expectativas. Trata-se do uso de analogias, sendo que estas produzem perspectivas, espécie de energia que alimenta através de oferecimento de possibilidades, cujo valor, pode ser capaz de estimular a imaginação a ponto de uma incorporação prolongada do mesmo pela mente do indivíduo.
A primeira produção de trabalho arrancado pelo homem primitivo da força instintiva mediante a criação de analogias foi a magia. Uma cerimônia é mágica, quando não é executada para se obter uma produção efetiva de trabalho, mas permanece no estado de expectativa. Neste caso, a energia é canalizada para um novo objeto e produz um novo dinamismo, que, por sua vez, permanece mágico enquanto não realiza trabalho efetivo. A vantagem que advém de uma cerimônia mágica é que o objeto recém – ocupado, adquire uma possibilidade de atuação em relação à psique. Por causa de seu valor, ela produz um efeito determinante e estimulador sobre a imaginação, de sorte que a mente é fascinada e possuída por ele por um tempo prolongado (JUNG, 2002, p.54).



Podemos pressupor que os indivíduos são alimentados por imagens, sons e sabores, entre outros, cujos sentidos, sentem e prolongam tais efeitos, criando estruturas mentais ou simbólicas, verdadeiros mapas conceituais que passam a orientar as pessoas em suas palavras e decisões.


[1] C.G. Jung. Símbolos de Transformação p.22

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