Como os arquétipos constroem a Realidade
Joaquim Luiz Nogueira
O conceito de arquétipo opera
no furo sobre a realidade ou visão imaginada pelo indivíduo. É o sentido em que
ele preenche o vazio, isto é, sua interpretação significante que oferece o
sentido, cujo efeito, torna-se a palavra ou imagem, algo que compõe a fronteira
entre o seu imaginário e o elemento simbólico. É o vazio que estimula ou cobra
uma ação de completude para descrever tal realidade ou continuidade.
Aquilo que não aceitamos ou
que não compreendemos, e que provoca angústia e ansiedade, também, criam portas
para novas realidades no jogo de escolha das palavras. De acordo com a proposta
de preenchimento dos espaços vazios pelo individuo, outros sentidos
cristalizados se excluem naquela realidade ou imagem.
Portanto, entra em cena, segundo a
Teoria de Jaques Lacan, o sujeito desejante, já que o vazio da realidade não
lhe faz nenhum sentido. E para ocupar este espaço vazio, o indivíduo responde com
suas fantasias, sonhos, sintoma, trauma e todas as formações do inconsciente.
Aqui, alguns traços de caráter
individual são elevados à condição de sublime, colocando o sujeito como
prioridade na ocupação deste vazio, trata-se, segundo Lacan, da participação da
realidade do inconsciente. Nesta tentativa de suprir o vazio por algo real do ser,
temos uma porta aberta na direção daquilo que significa um pedaço de realidade
para algo muito maior.
Tal elemento que buscamos para
preencher a lacuna faz uma espécie de ponte entre a realidade (do que falta) e
o simbólico (aquilo que satisfaz), algo que pode ser nomeado como responsável
pelo desencadeamento de novas ações a serem preenchidas por imaginação, ficção
ou trauma.
A realidade se constrói a
partir de efeitos, consequências ou resultados, deste modo, aquilo que nos
provoca a sensação de ausência toca a realidade e condiciona para uma linguagem
que não pode ser totalmente descrita ou traduzida devido a multiplicidade de
elementos que não fazem sentido no estado consciente.
Trata-se de uma linguagem abrangente
que só aproximamos dela pelo conceito simbólico do arquétipo, algo que produz
efeitos próximos do impossível, porém, de forma enigmática, possui uma força
epistêmica, cuja origem está no inconsciente.
O que nos escasseiam possui um
elo com o seu oposto, sendo a ponte entre ambos, formada pelo simbólico. Deste
modo, o que denominamos como realidade opera através da ausência e da
interpretação, isto é, do significante que o indivíduo atribui ao que lhe é
ausente. Seu discurso em palavras é o resultado desta fronteira entre seu
imaginário e a simbolização que pode ser usada para preencher a lacuna.
O elemento simbólico
representa a dimensão de toda a experiencia do indivíduo, condicionada por uma
linguagem formada por subsídios simbólicos, espécie de traços que de alguma
maneira tocam a sensibilidade, isto é, criam sentidos com o mundo do sujeito,
com outros símbolos de sua cultura ou do campo de seu conhecimento.
As definições que formam o imaginário
são compostas por símbolos e a forma como cada individuo percebe esta
comunicação visível e até invisível produzem modificações na consciência. Este
mecanismo conecta o individuo com algo maior do que ele mesmo e com um tempo
que transcende o aqui e agora.
É no equilíbrio do consciente
com o inconsciente, segundo Jung, que se dá o processo decisivo das ações do indivíduo,
porém, como este equilíbrio é logicamente impossível, há uma necessidade de símbolos
(ou arquétipos) que sirvam para tornar possivel esta estabilização. A fonte de
produção de tais arquétipos está no inconsciente, no entanto, a consciência consegue
ampliá-los.
Segundo Jung, o próprio
inconsciente cria os símbolos para que ocorra um equilíbrio dos opostos. É para
que a mente tome consciência daquilo que está confuso e assim, conseguir atuar
enquanto individuo, sem os temores da consciência.
Esta linha de equilíbrio gerada
por meio de símbolos e arquétipos, que aponta certo sentido para a vida
individual de cada ser, cria ações e mecanismos, cujos efeitos na realidade,
buscam a satisfação ou a realização de tais visões subliminares para o preenchimento
das lacunas que lhes faltam. As respostas oferecidas pelos arquétipos ou
símbolos se encaixam na falha da realidade de forma abstrata, semelhante a uma
metáfora ou fábula, porém, depende em até que ponto, o individuo acredita nesta
solução para que ela se torne real.
Para Jaques Lacan, “o
simbólico faz furo na realidade”. Logo, se o contexto oferecido ao individuo
não lhe conforta, algo surge em sua consciência para lhe apresentar uma saída,
mesmo que seja, uma sensação, intuição, palavra, imagem ou símbolo para excluir
o sentido cristalizado da realidade.
Referencias
O sintoma como
criação/invenção de um sujeito
Do Círculo de Eranos à
construção do simbólico, em Carl Gustav Jung https://www.scielo.br/j/pusp/a/cHFwqY8sM47M5DggtY3VLgC/?lang=pt
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